Chuteiras do adeus
um cheiro queimado,
espuma Kiss
metal retorcido,
fogo, gás cianeto
paredes e tetos desabados
do ninho dos sonhos, ao forno
do amor, ao inferno
em um arranjo improvisado
Novamente o luto e a dor, tomaram conta do Brasil. Já temos Brumadinho, enchente Carioca, adolescentes rubro-negros e agora Boechat. Crimes, que poderiam ter sido evitados, mas não foram. Em um início de ano saqueado por omissões, decisões equivocadas, falta de apreço pela vida, irresponsabilidades e ganâncias, que partem não só as suas famílias, mas o país ao meio. Mais um, entre tantos outros, com licenças compradas, ou sem licenças, à vista grossa.
No Brasil que nada se aprende, o dinheiro compra tudo, inclusive a vida. E quem perde¿
Hoje acordei me perguntando: aonde podemos recostar nossas cabeças com segurança, por um sonho? O esporte já rendeu demais: títulos, marketing, poder, dinheiro, escândalos, vidas. O preço anda alto demais.
Um alojamento, garagem.
Aonde um pai, guarda um filho. Um time, guarda qualquer coisa.
Muito mais jovens, do que viemos a saber nos últimos noticiários, calçam todos os dias chuteiras que além de bater bola, roçar campo, os levarão a conhecer caminhos em nada vitoriosos. Poucos dos jovens que sonham se tornar jogadores profissionais, o serão. E ainda, uma grande parcela dos que o são, acabam por falta de “base”, se “despendengando” na vida.
É uma luta muito mais difícil, muito mais complexa, do que se pode acompanhar pela TV.
E este, o único dano irreparável, está longe de não se repetir.
Hoje mais do que nunca, há de se pensar: aonde podemos nos recostar em segurança!
Méroli Habitzreuter – escritora, pintora e ativista cultural