Carlos Alberto foi o primeiro goleiro a jogar no Brusque, mas foi muito marcado por sua segunda passagem pelo clube, iniciada em 1992, quando foi campeão do Campeonato Catarinense e da Copa Santa Catarina. No primeiro jogo da história quadricolor, em 24 de janeiro de 1988, era ele quem estava no gol, assim como na final contra o Inter de Lages, em 6 de novembro de 1992, para conquistar o primeiro título da história do clube. Com 120 jogos, o arqueiro é totalmente identificado com o quadricolor e com a cidade.

O convívio com o futebol ocorreu desde cedo, em sua infância em Brasília, e não era pouco. Seu pai, Raimundo Ribeiro Campos, o Marreta, havia chegado à capital federal no ano de sua fundação, em 1960. Era massagista, e foi um ilustre personagem do esporte candango.

No início dos anos 70, Marreta trabalhava no CEUB, e muitas vezes era acompanhado do filho Carlos Alberto. Lá, o garoto conheceu um outro goleiro, que era de Brusque: Valdir Appel, que jogou no clube brasiliense entre 1973 e 1974. Quase 20 anos depois, Carlos Alberto, que se dizia um “zagueiro limitado” na infância, seria, como goleiro, um personagem importante da história do Brusque Futebol Clube.

Carlos Alberto jogava na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB) em Brasília, e foi encontrado por um olheiro do Palmeiras. Aceitou o convite para fazer testes nas categorias de base, e começou sua trajetória lá, também rodando por diversos clubes do interior paulista em empréstimos.

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Carlos Alberto, à direita, acompanha jogada do zagueiro Bianqui em partida contra o Criciúma, em 1988 | Foto: Carlos Alberto/Arquivo pessoal

O contrato com o Brusque foi firmado ainda em 1987. Carlos Alberto chegava à cidade, vindo do Fernandópolis-SP. A adaptação foi complicada, mas o ex-goleiro guarda uma lembrança com muito carinho.

“Eu falhei numa partida, não lembro contra quem era. Fazíamos uma boa campanha em 1988. E eu falhei num lance. A torcida era muito moderada, muito calma. E quando eu saí de campo, levantei a mão, assumindo a culpa, e a torcida começou a aplaudir, rapaz. Achei aquilo impressionante. Foi assim que percebi que ficaria em Brusque por muitos anos”, relata.

“A partir do momento em que eu comecei, através do futebol, a passar confiança pra torcida, para que eles pudessem me conhecer como pessoa extracampo, eles me abraçaram e me adotaram. Não sou brusquense, sou brasiliense. Mas moro aqui há muitos anos. A minha esposa é Brusque. Trabalho com com escola de futebol, sou conhecido em Brusque através do esporte. Então, você começa a ter uma identidade muito forte. Então, a partir disso, eu comecei a me identificar muito com a cidade”, completa.

A primeira passagem de Carlos Alberto pelo Brusque  incluiu as temporadas de 1988 e 1989.

O contrato de Carlos Alberto, assinado em 22 de janeiro de 1992 | Acervo pessoal

Copa SC

Nos primeiros dias de 1992, apareceu a oportunidade para voltar. Carlos Alberto jogava no interior de São Paulo, mas, com muita insistência do então presidente, Rubens Facchini, acertou seu retorno. Chico Wehmuth só se tornaria o mandatário do quadricolor dali a alguns meses.

“Eu estava de férias em Joinville, e o seu Rubens Facchini, muito amigo meu da época em que havia jogado no Brusque, entrou em contato comigo. E eu estava voltando para São Paulo. Ele foi até Joinville me procurar. Eu confesso que a minha intenção era voltar para São Paulo. Eu não queria voltar pra Brusque. Mas eu pensei, poxa, Brusque, né? Gostei muito dos dois anos que passei antes, enfim. Acertamos.”

Carlos Alberto retorna e percebe que há mudanças significativas em relação aos dois primeiros anos da história do clube. Para ele, a chegada de Joubert Pereira e de vários jogadores do Novo Hamburgo deram ao time características que considera típicas do futebol gaúcho. A principal delas era a competitividade.

Diferente de sua primeira passagem, o goleiro começou no banco. Leandro era o titular. “O Leandro era muito mais goleiro. Eu estava esperando uma oportunidade, estava mais maduro, sabia que precisaria esperar a chance de mostrar meu potencial.”

Carlos Alberto lembra que, durante a Copa Santa Catarina, chegaram ao Brusque dois reforços decisivos: Palmito e Cláudio Freitas. O volante estreou na décima rodada, enquanto o meia teve seu primeiro jogo já nas quartas de final, contra o Ferroviário, que se tornava Tubarão naquele ano.

“O nosso grupo de 92 já tinha uma qualidade, mas com atletas deste porte, ganhou mais corpo. Tinha quem carregava o piano e tinha quem tocava o piano. Aquela experiência e aquela juventude se uniram, e deu certo.”

Contudo, a caminhada foi interrompida pelo caso da escalação irregular de Cláudio Freitas, que causou a eliminação do quadricolor. “A diretoria do Brusque foi muito sábia, porque ela nos blindou muito disso. Sempre nos diziam para que estivéssemos voltados ao campo, que o extracampo eles iriam resolver. Claro que houve [um mal-estar], ‘poxa, vamos perder os pontos, como vai ficar?’ O Joubert Pereira sempre nos dizia: ‘vamos centralizar nossa atenção no campeonato, no jogo. O extracampo não pertence a nós.'”

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Itamar Schülle e Carlos Alberto com os troféus do Catarinense e da Copa Santa Catarina | Foto: Carlos Alberto/Arquivo pessoal

A temporada continuou, e Carlos Alberto obteve, enfim, a titularidade, após uma lesão muscular mais grave sofrida por Leandro. Quando a final da Copa Santa Catarina entre Brusque e Inter de Lages foi marcada, já era ele o dono da camisa 1.

O goleiro tem uma lembrança bastante clara do jogo de volta da final. “Em campo, o time se cobrava para ter uma alta performance. Não eram mil maravilhas não. Houve um lance em que a bola espirrou, foi para o alto, um pouco além da pequena área. O Solis gritou ‘sai, Carlos Alberto!’ E eu não saí. Eu não saí na bola. Rapaz, ele me deu uma bronca. Mas me deu uma bronca. E o Solis, quando põe a língua pra fora, sai de perto! E naquele momento eu dei uma apertada nele. ‘Tá pensando o que, cara? A bola era sua!’ Eu era garoto perto dele, tinha 29 anos.”

O estresse do bate-boca corriqueiro de um jogo não durou além do apito final, com o Brusque campeão da Copa SC. Zagueiro e goleiro se acertaram e seguiram para os últimos jogos da temporada.

“O time ganhou mais força, ficou ainda mais focado no objetivo. ‘Nós vamos longe. Não sabemos onde vamos chegar, mas nós vamos longe.’ Só que não esperávamos chegar até o final, tão longe assim (risos).”

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Carlos Alberto trabalha com o treinamento de goleiros no Paysandú | Foto: João Vítor Roberge/Arquivo O Município

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Carlos Alberto

Goleiro
120 jogos (1988-89 e 1992-93)
Em 1992: 24 jogos