José Luiz Cunha, o Bóca, foi prefeito por apenas seis meses. Ao lado do seu vice, Rolf Kaestner, lançou seu nome para disputar uma eleição indireta promovida pela Câmara, em junho de 2016.

O pleito, recheado de polêmicas: foi marcado mas suspenso, após a cassação do ex-prefeito Paulo Eccel; havia de se esperar o julgamento dos recursos por ele ajuizados. Havia, até então, a candidatura do empresário Ingo Fischer, que se retirou antes, sabedor da falta de votos para ser eleito.

Meses depois, o pleito é remarcado, e surge Bóca como o nome substituto. Só que, em teoria, não era mais prazo de substituição de candidatos, e a coisa foi parar na Justiça. Ao final, os togados decidiram por avalizar a candidatura e a diplomação de Bóca Cunha.

Ainda em 2016, ele concorreu a prefeito novamente, desta vez pela via direta: mesmo com a evidência que o cargo lhe proporciona, amargou um terceiro lugar.

O ex-prefeito Bóca Cunha, em seu escritório | Foto: Marcelo Reis

“Eu disputei a eleição e não tive a felicidade [de vencer], tenho que respeitar a decisão da população brusquense, ela que decide”, limita-se a comentar.

Após encerrar o mandato, afastou-se dos holofotes. “Não tenho acompanhado política, tenho me afastado da política, tenho minhas atividades”.

Perfil
José Luiz Cunha, o Bóca
Idade: 66 anos
Profissão: empresário
Partido: PP
Mandato: 6 de junho de 2016 a 31 de dezembro de 2016

Justo por isso, justifica sua escolha por, na entrevista, não tecer comentários a respeito do governo do prefeito Jonas Paegle.

“Só desejo ao doutor Jonas sucesso, e tenho certeza que ele está procurando ajustar as coisas de acordo com a arrecadação da prefeitura”, resume. Nessa entrevista, ele comenta os principais fatos da conturbada eleição da qual foi vencedor, assim como de seu governo.

Eleições de 2018

Bóca não irá concorrer em 2018, garante. Afirma que atuará na campanha eleitoral caso Esperidião ou Angela Amin sejam candidatos ao governo do estado, por serem seus amigos pessoais. Caso isso não aconteça, estará fora do processo eleitoral.

Para 2020, quando haverá nova eleição para prefeito, desconversa. “Por enquanto ainda não pensei nisso. o meu projeto, repito, é cuidar das minhas coisas, está muito cedo para falar. Não vou dizer nada sobre disputar eleição ou não”, afirma.

O mais positivo do governo

Questionado sobre o que considera de mais positivo de seu curto governo, Bóca cita o fato de ter entregado a prefeitura com as contas em dia ao sucessor. “A sociedade brusquense sabe que eu não poderia fazer nada mais do que fiz em quase sete meses de governo”, afirmou.

“Não peguei a arrecadação do IPTU no segundo semestre, passei a pior fase, que é o segundo semestre, e soube administrar com seriedade esses sete meses”.

Bóca diz que, em seu tempo de prefeito, não conseguiu fazer grandes obras, mas finalizou as de seus antecessores.

“Não deixei dívida na prefeitura, paguei o aumento salarial, todos os empenhos eu paguei, inclusive de gestão anterior, e aqueles que não deu para pagar deixei dinheiro em caixa”, conclui.

Uma reforma administrativa

O ex-prefeito Bóca Cunha revelou que, se pudesse voltar no tempo e exercer novamente o mandato, teria promovido uma reforma administrativa. O fato de não ter feito, até pelo pouco tempo que esteve na cadeira, é um dos seus arrependimentos.

“Eu iria fazer uma reforma administrativa dentro da prefeitura, iria rever certos cargos”.

Bóca afirma que, quando saiu da prefeitura, havia 145 comissionados, e ele teve que demitir, no período em que esteve lá, cerca de 50, para que as contas fechassem. “Se eu pudesse voltar no tempo e tivesse tempo suficiente, teria feito uma reforma administrativa”, ressalta.

Ele também gostaria de ter deixado mais projetos para o município captar recursos. Segundo o ex-prefeito, hoje a Prefeitura de Brusque arrecada praticamente apenas o necessário para cobrir as suas despesas básicas, daí a necessidade de projetos para buscar recursos. “O custeio está muito grande da máquina pública”.

Por que ser prefeito?

Meses antes de ter colocado seu nome à disposição para concorrer ao cargo de prefeito, via eleição indireta, após a cassação do ex-prefeito Paulo Eccel, Bóca Cunha era secretário de Turismo do prefeito interino, Roberto Prudêncio Neto, do PSD.

O que o motivou a buscar o cargo máximo da administração? A primeira parte da resposta é protocolar, de político de carreira.

“Eu gosto muito de política, fui prefeito porque a Câmara é composta por 15 vereadores, e os vereadores me chamaram e disseram: Bóca, vá candidato, que nós votamos em você. E por isso aceitei a candidatura”.

Instigado a comentar o motivo de ter ido contra o então parceiro político, de quem tinha sido secretário até pouco tempo, Bóca cita o motivo que mais preponderou, que já havia tornado público em outras oportunidades.

“Eu fui demitido pelo Whatsapp, como todos os secretários. Eu comecei trabalhando raspando ferro, com 12 anos de idade, e só subi degraus, nunca desci, eu me senti magoado com aquilo ali. Então vou disputar a prefeitura”, afirmou.

Veja bem: o cidadão era vereador e depois era prefeito, e os vereadores não votam nele? Tem alguma coisa de errado, né? Nem devia concorrer

Àquela época, Bóca ainda não tinha maioria na Câmara, pelo menos não na prática, e teve que inverter votos para derrotar Prudêncio por 9 a 6 na eleição indireta. Como conseguiu, é o questionamento.

“O Roberto [Prudêncio] é que tem que responder essa pergunta. Eu não era vereador e não estava sentado na cadeira de prefeito, como ele”, e continua.

“Veja bem: o cidadão era vereador e depois era prefeito, e os vereadores não votam nele? Tem alguma coisa de errado, né? Nem devia concorrer”, diz Bóca.

Críticas de Prudêncio

Por ter levado para o lado pessoal a demissão por Whatsapp e ter concorrido contra Roberto Prudêncio, Bóca foi largamente criticado pelo antecessor, em entrevista concedida recentemente.

Prudêncio o acusou de ter dado um golpe no município ao inscrever sua candidatura depois do prazo estipulado para a eleição indireta, além de ter agido para roubar votos de sua base aliada.

Bóca, é claro, respondeu. “Qualquer pessoa que tenha o mínimo de conhecimento jurídico, que se aprende no ensino fundamental, não vai falar isso”.

A Câmara marcou a eleição, ele aceitou a disputa, aí não se elegeu e vem dizer que é golpe. Se é golpe, a Justiça que deu, ele tem que cobrar isso do TSE

Ele argumenta que foi o Judiciário que estipulou a nova eleição, após cassar o mandato de Paulo Eccel, e que ele apenas colocou o seu nome para concorrer.

“A Câmara marcou a eleição, ele aceitou a disputa, aí não se elegeu e vem dizer que é golpe”, discursa. “Se é golpe, a Justiça que deu, ele tem que cobrar isso do TSE”.

Bóca também relembra que as ações judiciais que tentaram lhe retirar do cargo foram infrutíferas, e provoca o antecessor. “Eu não fui prefeito interino. Eu fui prefeito eleito, diplomado e empossado. Eu tenho um diploma de prefeito de Brusque”.