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Aquela história do turbante

Eu pensei em escrever sobre a questão do turbante que virou polêmica nos últimos dias nas redes sociais, mas estou começando a ficar com muita preguiça do assunto. Então vou escrever bem rápido, antes que eu desista de uma vez.

Se você não viu nada a respeito, um recap rápido: Thauane Cordeiro, uma curitibana que está careca por conta da quimioterapia (ela tem leucemia) estava usando um turbante, feliz da vida e “se sentindo diva” quando foi abordada e questionada: ela, branca, não devia estar usando um turbante, porque isso é apropriação cultural. Indignada, a garota desabafou no Facebook, usando a hashtag #VaiTerTodosDeTurbanteSim.

Opiniões favoráveis e contrárias a ela apareceram por todos os lados. Há quem diga que o turbante é um símbolo do orgulho e da luta da mulher negra. Há quem diga que ela nem branca é. E há quem diga que, se for assim, negras não deveriam alisar os cabelos.

Eu, que, também por conta da químio, estava usando vez por outra um turbantinho discreto, até me sinto no direito de dar meus dois centavos de palpite. E eles são bem baratinhos, mesmo: que tal a gente parar de dividir o mundo, enquanto procura igualdade? A menina (se branca ou não, qual a diferença?) não é pessoalmente responsável pelos séculos de opressão que negros sofreram e sofrem. Ela já carrega suas cargas e, como a maioria das mulheres na mesma situação, não se sente à vontade para exibir sua careca por aí – até porque as pessoas são tontas o suficiente para reparar e fazer evidente cada de piedade, que é tudo o que alguém que está tendo que conviver com o câncer e seu tratamento não precisam.

Se turbante é um símbolo, que seja de inclusão e não de luta. Que o orgulho seja inclusivo e não “separatista”. Se é para lutar, que seja contra o inimigo verdadeiro. O resto é distração, é fazer o jogo de quem acredita ainda na cultura dos donos de escravos. E eles existem.

O triste dessa história toda é o aproveitamento marqueteiro por uma empresa (que não merece ser nomeada) que parece achar que gerar buzz negativo faz bem para os negócios. Torço muito para que essa parte da história seja mentira.

No mais, liberdade para os turbantes. E que as pessoas limitem a patrulha quanto à apropriação cultural quando isso for necessário, ou seja, quando um símbolo for usado para ridicularizar, humilhar ou ofender as pessoas. Afora isso, que tal ter um pouco mais de empatia e bom senso? Era para tanto?

 

Claudia Bia – jornalista e, no momento, ostentando fios de cabelo de cerca de 3 cm na cabeça