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“Alzheimer espiritual”

A expressão estampada no título não é minha. É do papa Francisco. Ele a usou na mensagem que enviou por ocasião da 38ª edição do Encontro para a Amizade entre os Povos, que começou, no dia 21 de agosto de 2017, na cidade italiana de Rimini. Mensagem assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin. […]

A expressão estampada no título não é minha. É do papa Francisco. Ele a usou na mensagem que enviou por ocasião da 38ª edição do Encontro para a Amizade entre os Povos, que começou, no dia 21 de agosto de 2017, na cidade italiana de Rimini. Mensagem assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin. O tema do Enconto di Rimini é: “Aquilo que herdaste de teus pais, conquista-o para fazê-lo teu”, frase do escritor alemão Johann Goethe, tirada da sua obra Fausto.

O texto enfatiza que esses encontros convidam a cada ano a refletir sobre aspectos da existência que o ritmo do cotidiano muitas vezes coloca entre parênteses. E destaca que um dos limites das sociedades atuais é ter pouca memória, o que tem consequências graves, como, por exemplo, na educação. O papa lembra aos participantes do encontro que “um dos limites é aquele de ter pouca memória” – “livrar-se como fardo inútil daquilo que nos precedeu”, com “consequências graves” para as novas gerações, que não podem crescer sem tomar decisões baseadas na história passada.

A mensagem continua questionando: “Como podemos esperar fazer crescer as novas gerações sem memória? E como pensar em edificar o futuro sem tomar posição a respeito da história que gerou o nosso presente”. Acentua ainda que a igreja é rica de memória, impulsionada pelo vento do Espírito Santo a ir ao encontro com o homem que procura uma razão para viver. “Sabemos que o amor de Cristo não conhece fronteiras” e que a partir da criação as “marcas da presença de Deus ao longo da história são inúmeras”, mas “Deus não é uma recordação, é uma presença a ser acolhida sempre de novo”.

A mensagem lembra uma doença que pode atingir os batizados e que o papa chama de “alzheimer espiritual”: esquecer a história da relação pessoal com Deus, aquele primeiro amor que conquistou o ser humano até fazê-lo seu. “Se nos tornamos ‘esquecidos’ do nosso encontro com o Senhor, não estamos mais seguros de nada; então, nos ocupa o medo que bloqueia todo movimento nosso”. Para evitar esse “alzheimer espiritual”, o caminho é atualizar o início, o “primeiro amor” que não é um discurso ou um pensamento abstrato, mas uma pessoa.

O Papa destaca a oportunidade de comunicar aos homens a alegria do Evangelho e não ver o mundo da sacada ou sentado em um sofá, mas conquistar o verdadeiro e o belo da herança dos pais para viver a mudança de época. “Conquistar a própria herança” é um empenho ao qual a igreja chama todas as gerações, acrescenta a mensagem, e o convite do papa é para não se deixar assustar pelos cansaços e sofrimentos que fazem parte do caminho.

O papa convida os organizadores e os voluntários do encontro a “aguçar a vista para perceber os tantos sinais da necessidade de Deus, como sentido último da existência”, de modo a “poder oferecer às pessoas respostas vivas para as grandes interrogações do coração humano”. E serem “testemunhas confiáveis da esperança que não desilude” e de falar aos visitantes que chegarão ao evento, com os encontros, as mostras, os espetáculos, mas acima de tudo, com a própria vida”. (Zenit 21/09/2017).