Alimentação perfeita?
O que seria a alimentação perfeita diante de tantas teorias ditadas, todos os dias, por diferentes metodologias e objetivos? Como podemos ter convicções na busca por um modelo de perfeição que não é natural, mas resultado de convenções sociais? Qual é o divisor entre buscar formas perfeitas e se agredir física e emocionalmente, para encaixar-se em parâmetros ditados pelo outro e/ou por nossa inconsciência?
É recorrente a fala: “estava com a alimentação tão certinha e, hoje, estraguei tudo….”
O estragar tudo, no caso, é: ter vida social e ser feliz comendo com prazer; tirar um final de semana de folga e não se exercitar por estar cansado; ir ao supermercado de chinelos por ser mais confortável e estar com os pés doendo…
Quanta inconsciência…
“Estragar tudo” é não entender que não podemos controlar 100% das nossas vidas, ignorando nossas vontades, nosso bem-estar, nosso direito à liberdade. “Estragar tudo” é a inconsciência de que a ausência de rigidez significa VIVER.
Para adultos, é caótico ver-se perdido entre o possível e a convenção. E adultos educam crianças. Educamos nossos filhos dentro de um modelo, a que tentamos nos encaixar com custo e sem muito sucesso, para submetê-los aos modelos ideais da sociedade. Educamos, buscando a perfeição dos filhos, para que outros os aprovem e os enquadrem no modelo de criança perfeita.
Educar tem sido uma busca sem fim, para que filhos pareçam felizes a cada segundo, evitando erros em nome do fazer certo; evitando frustrações em nome da felicidade; evitando lágrimas … Os pais são pressionados a atenderem os filhos, como se pudessem carregar na manga um centro de entretenimento inesgotável.
Pais esforçadíssimos – atentos a mil teorias – estão apenas evitando que filhos VIVAM e colecionem suas próprias experiências. Com tais atitudes estamos dizendo a eles que existe perfeição e que a vida precisa ser perfeita 100% do tempo para que seja boa. Esquecemos que experiências ruins, também fazem parte da educação. Esquecemos muitas vezes que nossas convicções mais intensas/fortes/bem estruturadas vieram de uma experiência negativa que conseguimos superar.
Assim, na alimentação também há mil teorias, ditames de perfeição e conceitos limítrofes de gostoso ou apenas saudável. De um lado o prazer, do outro apenas a razão.
Isso não é real. Não precisamos separar prazer e saciedade, razão e emoção, nem saúde mental e vivência numa sociedade cheia de parâmetros. Precisamos unir tudo em um mesmo momento chamado bom senso, equilíbrio; um momento cheio de escolhas, repleto de reflexão, participação consciente e compromisso.
Educação de filhos através de ensinamentos não convenientes, mas aceitos para imitar a maioria? Onde mora o bom senso? Em que momento atravessamos a linha da sensatez, para nos sentirmos aceitos? Que sentimento é esse que nos faz buscar pela falsa felicidade instantânea, presente nas fotos postadas nas redes sociais?
Continuamos sendo seres humanos apesar de toda a tecnologia e avanço da ciência, continuamos necessitando de afeto, de qualidade de vida, saúde e prazer. Continuamos precisando de comida que nos mate a fome. Precisamos matar a fome de vida, a sede de felicidade… nas vivências, não transferindo todos os nossos anseios para um prato de comida.
O prato de comida não contém aquilo que abandonamos ou ignoramos ao longo dos dias; não está temperado por nossas vontades, não é regado pelos desejos não concretizados. A alimentação sustenta um organismo capaz de resolver situações complexas, conduzindo um ser à abundância e não submetido a migalhas de alegria.
Deixamos de lado a única coisa que nos permite ser perfeitos: a ação! Sem agir, não adianta buscarmos nos meios virtuais a perfeição que idolatramos. Temos que agir por nós, dando um passo de cada vez em direção ao nosso objetivo. Sem fazer parte deste mundo de zumbis que engolem informações e não raciocina mais. Massa de manobra: um rebanho sem razão, sem escolhas, sem desejos, sem ação.
O néctar da vida, não cabe nos singelos limites de um prato de comida, por isso uma refeição deve conter alimentos em equilíbrio para matar apenas a fome fisiológica, não ser mais um refúgio de frustrações, incompletudes e sombras. Assim encontraremos na alimentação o prazer que lhe é pertinente, o prazer consciente e do tamanho certo.
Vamos ensinar nossos filhos a serem, a pensarem e a agirem. Vamos aprender junto deles a essência da vida, vamos refletir e entender o que nos faz feliz de verdade. Vamos retirar do prato nossas emoções e enchê-lo de alimentos que sustentarão um organismo com energia suficiente para lutar por vida plena.
Janaina Kühn Barni – Nutricionista – Educação Alimentar infantil e Rotina Familiar