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Alfaiate, uma Crônica Costurada com Afeto

Com o avanço da indústria da confecção, com suas roupas e vestes prontas para levar, estão desaparecendo as costureiras, essas mulheres guerreiras do trabalho sem parar em seus ateliês domésticos, mãos na panela para o almoço de cada dia e na máquina de costura, que já não é mais a antiga Singer, para vestir a […]

Com o avanço da indústria da confecção, com suas roupas e vestes prontas para levar, estão desaparecendo as costureiras, essas mulheres guerreiras do trabalho sem parar em seus ateliês domésticos, mãos na panela para o almoço de cada dia e na máquina de costura, que já não é mais a antiga Singer, para vestir a elegância das mulheres da sua rua. Essa nova onda industrial está acabando, também, com o alfaiate, palavra de origem árabe que incorporamos ao dicionário português para designar esse estilista da indumentária masculina, que os franceses chamam de tailler, os ingleses de tailor e os alemães de schneider.

Desde criança, sempre tive curiosidade para observar o trabalho dos poucos alfaiates tijucanos, esses profissionais do tecido, a pedalar a máquina de costura, cabeça baixa, olhos atentos, mãos firmes junto ao vai-e-vem incessante da agulha para a costura definitiva das peças do quebra-cabeça cortadas uma a uma, na transformação do pano em vestes da elegância masculina.

Máquina parada, alfaiate em pé, junto à mesa, fita métrica pendurada no pescoço, tecido estendido, traços a giz, retas e curvas sobre o pano riscado para o corte sem retorno da tesoura manejada por mãos de mestre. Depois, o ritual dos alinhavos, pespontos, provas e a costura definitiva dos paletós, coletes e calças.

Indiscutivelmente, o alfaiate marcou a vida econômica, política e cultural brasileira. As alfaiatarias sempre foram um local de reunião da elite da cidade, onde políticos, médicos, juristas, jornalistas, inteletuais, enfim, gente da burguesia e classe média deste país se encontrava para discutir as grandes questões nacionais e propor soluções de salão, como fazemos hoje sentados à mesa de uma cafeteria ou mandando e compartilhando mensagens pelo Face ou pelo WhatsApp.

Basta lembrar da esquecida Conjuração Baiana, movimento rebelde que eclodiu em agosto de 1798, para lutar pela emancipação política da então Colônia brasileira. Ficou mais conhecida como a Revolta dos Alfaiates. Dois de seus principais líderes eram profissionais da costura e suas alfaiatarias devem ter sido palco de reuniões sobre o movimento emancipacionista. Acabaram enforcados por lutar pela nossa liberdade.

Hoje, são poucos os alfaiates em nossa cidade. Mas, ainda faço meus ternos na Alfaiataria do Pedroca, mestre da tesoura e da elegância masculina brusquense, a quem dedico esta crônica, alinhavada com afeto e costurada com o fio da amizade.