De repente, umas semanas atrás, li uma notícia daquelas que faz a gente dizer “ahn???” – Edu K, para nós sempre lembrado como o vocalista do Defalla, estava lançando um novo trabalho solo. E agora ele se transformou em uma drag queen.

Para quem acompanha o Defalla desde os anos 80, qualquer mudança camaleônica do Edu K acaba tendo que ser encarada sem muito susto, já que, com e sem a banda, ele já passeou por trocentos estilos musicais, muitos deles opostos. No visual, a gente também sabe que usar saia, maquiagem ou qualquer outro acessório marcante… são coisas que fazem parte da história dele.

Mas fica fácil pensar que essa virada em drag acontece justamente em um momento em que o sucesso cult do reality RuPaul’s Drag Race colocou o universo drag em um patamar de popularidade inédito. Sem falar na onipresente Pabllo Vittar, atual fenômeno no Brasil. Fica parecendo que Edu chegou nessa onda com um delay um pouco maior do que nas mutações anteriores.

Mas a impressão acaba se dissolvendo, depois que a gente resolve acompanhar um pouco o processo e algumas das entrevistas que ele tem dado para os sites do ramo. Vamos pinçar só um pouquinho do que ele conversou com Carlos Viegas, do site NewYeah. “Essas expressões vêm de muito mais longe, vide teatro japonês, por exemplo, passando, sim, pelo glam inglês de 72 e 73.” O que o levou a mergulhar em uma velha referência: sim, o próprio David Bowie. Depois de ler todos os livros sobre Bowie que conseguiu e reouvir a obra, uma outra referência antiga reapareceu na vida de Edu K: o próprio RuPaul e seu programa de TV.  “A cultura drag, que sempre fez parte de minha vida e de minha expressão, mesmo que em menor proporção, se infiltrou no processo de glamização que vinha acontecendo, processo que resultou no meu EP Lipstick Jungle e na Lipstick Jungle Tour. Se formou essa ponte entre o glam dos anos 70 e o glam do futuro. É como eu digo, se Bowie é meu pai, RuPaul é minha mãe. E vice-versa“.

Agora que a gente consegue entender um pouco do processo, fica mais fácil ir ouvir o EP (que está disponível em todas as plataformas de streaming) sem preconceitos.

As 7 músicas não seguem um caminho único. Algumas são super calcadas no glam, como a faixa título e 20Çeduzir. Tem as “chicletudas”, que poderiam muito bem ser cantaroladas por mais gente, como Rewind e Longe de Ti. E tem o resumo geral do trabalho, Dando no Meio.

Se daqui a pouco Edu K mudar novamente de fase, a gente já sabe que essa “falta de estabilidade” é outra coisa, é a característica de um artista que não quer sossegar em um só papel. Que bom se outros também fossem assim!