Polêmica é bom e a gente gosta. Não pelo gostinho de escandalizar, mas porque da polêmica sempre pode nascer uma nova opinião, baseada em argumentos que não tínhamos pensado antes. Hoje, entramos na polêmica do momento. Isabeli e Grazielle nos dão opiniões opostas sobre a descriminalização – ou não – do aborto. E você, o que pensa sobre isso?
Um crime legalizado
Nas últimas semanas várias notícias surgiram, desde lançamentos de filmes muito esperados até tragédias. Uma das notícias que mais causaram repercussão na internet, causando alvoroço, foi a nova lei do aborto.
A nova lei diz que o aborto até o terceiro mês de gestação não é mais considerado crime. A desculpa para tal ato é que segundo o STJ (Supremo Tribunal de Justiça), ao legaliza-lo sua intenção é diminuir o número de abortos, já que países desenvolvidos e mais liberais têm um número de abortos menor que o Brasil, que possuía a lei da proibição.
Mas o que eles não pararam para analisar é que o que realmente faria o número de abortos diminuir seria o aumento de investimento em melhorias nas áreas de saúde, educação e saneamento básico, já que a maioria das mulheres que abortam tem como principal motivo a baixa renda familiar; mas ainda assim isso não é desculpa.
Aborto é crime, sim. Você está tirando uma vida, impedindo o futuro de alguém. Se parar para pensar, já que todos têm um futuro incerto pela frente, esse feto, este ser vivo que foi morto, poderia ser o descobridor da cura do câncer, ou o criador de uma invenção revolucionária. Pense em alguém que mudou sua vida e imagine se a mãe tivesse tomado a decisão de matá-lo antes mesmo dele nascer.
Não há desculpas para o aborto, já que para impedir uma gravidez indesejada existem métodos anticoncepcionais. Mas então surge o caso de abuso sexual. Ainda assim o aborto não deixa de ser o ato de tirar uma vida. Não estamos falando de um objeto, estamos falando de um ser vivo.
Muitos outros pontos poderiam ser citados sobre o porquê de aborto ser crime, mesmo até os três meses (apesar de agora perante a lei não ser), mas tudo se resume ao fato de que todos já fomos um feto de três meses, alguém que hoje tem sonhos, esperanças e (graças a nossas mães não terem optado pelo aborto) vida.
Isabeli Nascimento Pereira -17 anos – terceiro ano
Eu tenho direito a ter minhas próprias escolhas, ou não?
A internet foi à loucura nos últimos dias por diversos motivos, um deles foi a descriminalização do aborto no Brasil. Muitas pessoas colocaram em suas redes sociais sua opinião sobre o tema, inclusive muitas destas postagens eram extremamente machistas, preconceituosas e ignorantes. Ficou claro que diversas pessoas não entenderam muito bem o caso e apenas comentaram o mesmo baseado em boatos e especulações na web, pois bem, vamos esclarecer alguns pontos.
O aborto até o terceiro mês de gestação não foi descriminalizado ainda no Brasil. A decisão da primeira turma do congresso vale apena para um caso específico, envolvendo cinco pessoas de uma clinica clandestina de aborto em Duque de Caxias no Rio de Janeiro. Os envolvidos no caso ganharam o Habeas Corpus, o que significa que eles terão direito a responder pelo processo em liberdade.
Vejam, eles ainda serão julgados pelos atos praticados porém, a decisão dos Ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Edson Fachin foi um grande passo para a igualdade de gênero no Brasil e a autonomia da mulher sobre o seu próprio corpo.
Apesar de vivermos um pseudo estado laico, não podemos deixar que os conceitos morais de algumas religiões interfiram no direito individual das pessoas perante seus próprios corpos.
Cara amiga, se você é contra o aborto, seja lá qual for o motivo que te faça chegar a esta conclusão, não aborte. Simplesmente não pratique o ato. Você é dona do seu próprio corpo. Mas dê abertura para que outras mulheres possam tomar uma decisão diferente da sua, dê oportunidade a estas mulheres escolherem o destino de sua própria vida.
O procedimento de abortar é doloroso, complicado e pode causar traumas físicos e psicológicos em quem os pratica, mas esta decisão deve caber apenas a dona do corpo em questão.
Aos homens, desculpem mas este assunto não diz respeito a vocês, por simplesmente não saberem tudo o que uma gravidez resulta na vida de uma mulher. Se vocês fizerem um filho, não precisarão se afastar do trabalho ou escola de vocês. Nunca terão seus corpos transformados, jamais conhecerão a dor de um parto e tudo o que ele acarreta.
Por fim, deixo a frase do Ministro Roberto Barroso que resume bem o que estou explicando neste texto, “na medida em que é a mulher que suporta o ônus integral da gravidez, e que o homem não engravida, somente haverá igualdade plena se a ela for reconhecido o direito de decidir acerca da sua manutenção ou não”.
Grazielle Guimarães – 20 anos – estudante de jornalismo