João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Outono 2023: folhas mortas e o amor que partiu

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Outono 2023: folhas mortas e o amor que partiu

João José Leal

Na bela composição – As Quatro Estações – Vivaldi musicaliza a primavera e o verão com acordes musicais vibrantes, como a dizer que chegou o almejado tempo das verdejantes folhas nas copas das árvores, do canto dos pássaros e das coloridas flores nos jardins, adormecidas nas estações anteriores. Então, o concerto se enche de vibrantes acordes, se transforma numa profusão de notas musicais fugazes para anunciar a chegada do tempo primaveril e estival de festa, alegria, prazeres e de renovação da vida.

Depois, vem o outono que começa com acordes ainda alegres porque é o tempo da colheita. Mas, logo depois as cordas dos violinos e celos entristecem, as notas musicais entram num compasso lento e de monotonia, como a simbolizar as árvores perdendo suas folhas e a exuberância ostentada nas estações anteriores. Na sua alegoria musical, Vivaldi desenha o outono como um tempo de tristeza, nostalgia e saudade do tempo de alegria e prazeres vividos na primavera e no verão.

É claro que a consagrada composição se refere às estações do hemisfério norte, onde o frio intenso cobre o chão de folhas amarelas e de neve de branquear a paisagem, contrasta com o calor das estações quentes. Mas, nós aqui do sul, temos também as nossas estações frias e árvores que trocam a sua folhagem verde pelo amarelo e até vermelho, suas folhas preparando-se para o último balanço na volta inexorável ao regaço da Terra-Mãe.

Não foi só Vivaldi que levou o outono para campo da arte musical. A bonita canção francesa Feuilles Mortes, que se tornou mundialmente conhecida por sua versão em inglês Autunm Leaves, fala também das folhas de outono vermelhas e douradas levadas pelo vento e pela chuva a cair contra a vidraça do amante saudoso do amor vivido na primavera e na estação estival. Para o compositor francês, o outono é cantado como a estação da tristeza e da solidão, pois a canção fala da saudade que vai no coração do amante ao lembrar-se dos beijos da mulher amada, durante o tempo ardente do verão.

Pois é. O nosso outono começou na tarde da última segunda-feira. Pelo que dizem os magos do tempo e da temperatura, a perigosa La Niña estará se despedindo para nos deixar um tempo menos sujeito a catástrofes climáticas. Não sou da área, mas estou certo de que os dias de calor escaldante e chuvas exageradas estão com os dias contados.

Então, me lembrei de escrever essa crônica ouvindo a beleza musical das Quatro Estações, de Vivaldi. O concerto dedicado ao Outono dura 12 minutos e me acalmou o espírito para refletir sobre o texto que acabo de escrever.

Lembrei-me também de ouvir uma antiga gravação da canção Folhas Mortas, na bonita voz de Carlos Galhardo. Na versão portuguesa, a letra diz que as “folhas de outono fazem lembrar eu e você à luz do luar. Mas, você partiu sem um adeus. Triste eu fiquei, com minha dor”.

Cada um tem a sua história de amor a ser lembrada. Mas, provavelmente, nem todos tenham uma amada que, um dia, partiu sem sequer dizer adeus. E, durante o outono que está começando, talvez poucos se lembrem de olhar pela janela as folhas amarelas caindo das árvores no último balé de suas curtas existências.

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