Médico de Brusque alerta para problemas neurológicos causados pela Covid-19
Neurologista José Sion Cantos diz que há casos de complicações pós-Covid-19 em pacientes de Brusque
Neurologista José Sion Cantos diz que há casos de complicações pós-Covid-19 em pacientes de Brusque
O médico de Brusque José Sion Cantos escreveu um artigo para o jornal O Município alertando para problemas neurológicos causados pela Covid-19. Ele diz que o coronavírus acomete principalmente o sistema respiratório, mas também outros órgãos e sistemas, como o nervoso.
Em 6 de janeiro Brusque atingiu a marca de 14 mil casos confirmados de coronavírus. “Considerando as dificuldades que temos com testagem, insuficiência de testes e demora para obter resultados, acreditamos que o número real já é bem superior”, diz o médico.
Entre os casos reportados na cidade, o neurologista diz que há diversos pacientes que tiveram complicações neurológicas pós-Covid-19.
Entre os acometimentos estão a cefaleia (dor de cabeça) crônica, fadiga muscular, paralisia facial, neurite óptica (inflamação do nervo óptico) e insônia severa. Há ocorrência também de amnésia anterógrada severa (perda de memória) em pacientes “normais” antes da infecção.
“Toda a rede de saúde pública e privada deve estar atenta para identificar e dar suporte a este tipo de complicações que acreditamos que vão ser cada vez mais frequentes nos próximos meses”, alerta Cantos .
O neurologista diz que o primeiro registro de manifestação neurológica por Covid-19 foi em março de 2020, nos Estados Unidos. Um idoso de 74 anos, com comorbidades, apresentou encefalopatia por Covid-19. Ele tinha um quadro de desorientação, confusão mental, dificuldades de memória e alucinações.
“Estudos posteriores confirmaram que o vírus Sars Cov2 tem também uma afinidade por células do sistema nervoso. A perda do olfato (anosmia) e do paladar (ageusia) seriam uma constatação deste neurotropismo. Ao que tudo indica, é o nervo olfatório a principal porta de entrada do vírus no sistema nervoso”, explica Cantos.
O médico continua a explicação dizendo que dentro do cérebro o vírus parece ter uma afinidade por um tipo de célula chamada oligodendroglia, que têm muitos receptores “ACE2” e “TMPRSS2”. Esses receptores são os lugares favoritos da proteína “spikes”, ou seja, aqueles “espinhos” vistos nas imagens do coronavírus.
Há mais de 300 artigos científicos publicados reportando séries de pacientes com complicações neurológicas pela Covid-19. “Estas complicações podem acontecer pelo acometimento direto ou mediadas pela ativação do sistema imunológico do próprio paciente”, explica o neurologista.
Dentre os sintomas neurológicos estão as dores de cabeça, que podem se prolongar após o término da fase sintomática aguda, perda do olfato e paladar, tonturas, desequilíbrio ao andar, dores musculares em 10% dos casos, acidente vascular cerebral (AVC) principalmente de tipo isquêmico, meningite, convulsões e neuropatia periférica.
Já sobre as manifestações mediadas pelo sistema imune, há casos reportados de síndrome de Guilain-Barré, doença que acomete os nervos periféricos provocando fraqueza severa, mielite transversa, entre outras doenças.
O médico também alerta que há complicações neuro-psiquiátricas decorrentes do estresse severo e o desgaste psicológico que o coronavírus provoca em pacientes, familiares e equipes de saúde que estão sobrecarregadas.
“Não existindo até o presente nenhum tratamento preventivo, nenhum antiviral contra Sars Cov2 nos resta continuar agindo responsavelmente como indivíduos e como sociedade evitando aglomerações, usando máscara de forma apropriada, higienizando as mãos e aplicar a vacina assim que for aprovada pela Anvisa. A vacinação é uma estratégia muito eficaz desde que seja coletiva”, finaliza o neurologista.