José Arthur Boiteux e a Academia Catarinense de Letras
Antigamente, as crianças costumavam vir ao mundo de madrugada. Então, deve ter sido na madrugada de 9 de dezembro de 1865, que o choro da vida ecoou na casa de Henrique Carlos e Maria Carolina Boiteux. Naquele momento, nascia José Arthur que viria a ser um dos filhos mais ilustres da cidade então chamada de São Sebastião do Tijucas Grande. E, não somente da sua querida terra natal. Foi, também, um personagem que, ao longo da sua vida, marcaria indelevelmente a história política, jurídica e cultural de Santa Catarina.
E porque o destino das grandes lideranças foi sempre a capital, depois dos primeiros estudos, José Arthur, ainda criança, foi estudar na então Desterro. E, logo depois, o adolescente de 16 anos já estava na capital da República para estudar Medicina e trabalhar como revisor, na Imprensa Oficial do Império. Preocupado com as causas sociais e políticas, largou a Medicina para estudar Direito em São Paulo. Ao mesmo tempo, abraçou o jornalismo que exerceu intensamente até a sua morte.
Do jornalismo e da militância em prol da República e da causa abolicionista, surgiu o homo politicus. Com sua formação humanística e jurídica, profundamente comprometido com o interesse coletivo, o jovem José Arthur ingressou na política para exercer mandatos parlamentares.
Tanto na Assembleia estadual, onde foi constituinte, quanto na Câmara federal, José Boiteux deixou a sua marca de legislador a serviço do seu povo. Além disso, participou ativamente da administração estadual, ocupando cargos de Secretário de Estado, a serviço do primeiro governo republicano e de outros que se seguiram, nas primeiras décadas do século passado.
Visionário no sentido mais sublime da palavra, apóstolo das boas causas, José Arthur Boiteux dedicou a sua vida inteiramente à causa pública e a inúmeras ações em prol da cultura e das artes. Muitas foram as suas realizações bem sucedidas que permanecem em plena atividade. Ainda no final do século 19, foi ele o principal artífice e fundador, em 1896, do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, instituição que hoje guarda grande parte do acervo histórico da nossa Terra e da nossa gente.
Foi também o fundador, em 1917 e primeiro diretor do Instituto Politécnico, a entidade embrionária do ensino superior em Santa Catarina. Em 1932, lutando contra vozes do negacionismo, liderou o movimento que culminou com a criação da nossa primeira Faculdade de Direito. Hoje, merecidamente, é considerado como o Pai das Letras Jurídicas em Santa Catarina.
Outra sua importante e louvável iniciativa, sem dúvida, foi a fundação da Academia Catarinense de Letras, em 1920. Agora centenária, honrando a memória de seu criador, a Instituição se mantém viva como o mais legítimo repositório da cultura e da arte literária de nosso Estado.
E, se renovando neste novo tempo da informação virtual, a nossa Academia de Letras realizou a sua primeira eleição eletrônica, cuja Diretoria presidida pelo acadêmico e jornalista Moacir Pereira, tomará posse amanhã, também numa sessão pela internet.
Penso que as ondas cibernéticas da comunicação virtual chegam às alturas cósmicas do espaço celestial. De lá, o espírito imortal de José Arthur Boiteux, feliz, realizado, eternamente sereno, com certeza, estará assistindo a essa experiência renovadora da sua amada Academia Catarinense de Letras.