Preservação do patrimônio material e a evolução da sociedade
Em tempos de eleições, me deparei com discussões acerca da preservação do nosso patrimônio histórico que, pouco a pouco, tem ido ao chão. Em Brusque, a questão é bastante controversa e, sem dúvida, existe uma parcela da população que é contra a preservação. Talvez porque desconheçam que o nosso patrimônio é a manifestação concreta da identidade e a expressão da cultura, que se mantém imanente nas paredes que permaneceram erguidas.
No entanto, é possível que muitos não guardem relação identitária com as nossas edificações antigas. Talvez a nossa população, ao conviver com as edificações que remetem aos “nossos anos dourados”, quando Brusque floresceu e se consolidou como cidade industrial e força política regional, não consiga “se ver nelas”.
Às vezes tenho a impressão de que se quer apagar o passado. Mas o passado de Brusque é digno de orgulho. E, como sociedade, devemos lutar com todas as nossas forças pela preservação da nossa memória. E são exatamente as edificações e espaços históricos os nossos repositórios concretos de memória. São eles que permitem que o passado interaja com o presente. Vejamos alguns exemplos simples:
Em termos de educação, é muito mais eficaz contar a nossa história quando usamos elementos concretos. Podemos falar da primeira edição dos JASC, realizada em Brusque, a partir de elementos concretos.
Falar aprender sobre desenvolvimento econômico a partir da indústria têxtil, conhecendo as edificações que já abrigaram as grandes indústrias e os equipamentos que foram utilizados. E podemos falar do desenvolvimento político e social a partir de casas que pertenceram às pessoas que se destacaram nestas áreas.
Podemos viver arte e cultura visitando o Parque das Esculturas de Brusque, onde encontramos obras de renomados artistas. Podemos conhecer um pouco dos primórdios da história de Brusque caminhando pela Rua Hercílio Luz, ou “Rua das Carreiras”, nome pelo qual a maioria dos brusquenses refere-se ao local.
Podemos entender um pouco sobre religiosidade e sobre o pioneirismo da nossa gente visitando a igreja e o cemitério luterano do centro. Podemos ter acesso aos documentos históricos de fundação da cidade, registros de 160 anos atrás, na Casa de Brusque.
Assim como podemos conhecer a obra do ganhador do Prêmio Pritzker de 1986, Gottfried Böhm, que construiu duas obras no Brasil, a Igreja Matriz São Luiz Gonzaga, de Brusque e a Igreja Matriz de Blumenau, duas cidades com enorme influência alemã na cultura. Ou podemos conhecer a história da educação superior em Brusque pela Unifebe. Estes são apenas algumas referências, existem muitas outros.
O patrimônio histórico cultural nos une, de forma concreta, como um povo. As nossas antigas edificações e a importância histórica contida nas suas arquiteturas nos trazem muito conhecimento, muitas respostas e explicam-nos enquanto sociedade. Em 2020, temos muitos novos ricos que não tem qualquer relação com os poderosos de outrora. Geralmente, nem as linhas mais tênues os unem. E, ao presenciar manifestações eloquentes contrárias à preservação da memória de Brusque, materializada em suas edificações históricas, eu me perguntei: será que alguém teme que a preservação do nosso rico patrimônio possa ser o equivalente a embalsamar um cadáver que se desejaria que fosse apenas cinzas?