Estabelecimentos enfrentam resistência de clientes para medir temperatura por causa de notícias falsas
Medição na temperatura na testa tem sido alvo de disseminação de informações erradas em Brusque
Medição na temperatura na testa tem sido alvo de disseminação de informações erradas em Brusque
Após a obrigatoriedade da aferição de temperatura pelos estabelecimentos comerciais em muitas cidades do país como forma de prevenção à Covid-19, várias publicações nas redes sociais começaram a surgir questionando o uso do termômetro infravermelho.
Nas últimas semanas, vídeos têm circulado nos aplicativos de mensagem alertando as pessoas para que não deixem que a medição da temperatura seja feita na testa. O motivo é porque o equipamento “emite um raio infravermelho que atinge a glândula pineal e com o tempo pode causar distúrbios na glândula e trazer consequências seríssimas”.
Acreditando nessas informações, que não tem nenhuma comprovação científica e são consideradas pelos especialistas como fake news, muitas pessoas preferem que a temperatura seja aferida no pulso.
Vários estabelecimentos comerciais de Brusque têm enfrentado resistência de clientes no momento de aferir a temperatura. Muitos se recusam a medir a temperatura na testa, como é o recomendado, porque receberam informações de que faz mal à saúde.
A gerente comercial do Bistek, Simone da Silva, afirma que principalmente clientes mais idosos preferem que a temperatura seja medida no pulso ou pescoço.
“Tem alguns que já chegam mostrando o pulso. São pessoas de média a mais idade que não deixam aferir a temperatura na testa. Aí medimos no pulso, não entramos em conflito, embora sabemos que há diferença da temperatura da testa para a do pulso”, diz.
Na Milium os funcionários também enfrentam resistência. O chefe de loja, Lucas Henrique, afirma que no estabelecimento só é permitida a entrada com a aferição da temperatura na testa.
“Esta é uma recomendação da direção da loja. É um procedimento padrão. Só medimos a temperatura na testa, caso contrário, o cliente não pode entrar. Muitos não entendem, reclamam, porque acreditam que prejudica a saúde”.
A Diretoria de Vigilância Sanitária de Santa Catarina (Divs) chegou a emitir um alerta sobre a fake news do termômetro, orientando para o uso correto do equipamento, que é a medição da temperatura na testa.
Na nota, o órgão estadual afirma que “a notícia de que o termômetro infravermelho cause prejuízo à glândula pineal, é considerada fake news, pois anatomicamente isto é impossível”.
A Divs explica que a glândula pineal é uma pequena glândula endócrina no cérebro dos vertebrados. A glândula produz a melatonina, um hormônio derivado da serotonina que modula padrões de sono e está localizada na parte central do cérebro.
“Os termômetros infravermelho medem a energia irradiada pelo corpo, que é convertida em um valor de temperatura. O termômetro que mede a temperatura apontado para a testa não emite raios infravermelhos, o objeto faz a medição ao captar a radiação infravermelha emitida pelo próprio corpo humano”, esclarece.
A nota da Diretoria de Vigilância Sanitária explica ainda que todo corpo naturalmente emite radiação eletromagnética e que a intensidade da radiação emitida está relacionada à temperatura do corpo.
“O termômetro infravermelho mede a intensidade da radiação de infravermelho emitida pela superfície de um corpo para inferir sobre a temperatura dele. Não há prejuízo ao corpo humano. Nenhum termômetro que usa o infravermelho dispara radiação eletromagnética. Um termômetro desse tipo é apenas um detector e não uma fonte de radiação infravermelha”, explica a nota.
O órgão também esclarece que como a temperatura interna do corpo pode ser diferente da temperatura da superfície, esses termômetros são calibrados antes de serem comercializados usando a testa como área de calibração.
“Por isso, em geral, se recomenda usar a testa para que a medida seja mais parecida com a da calibração e, com isso, aumente a precisão na medida da temperatura”.
De acordo com a Divs, os termômetros infravermelho no Brasil necessitam de certificação do Inmetro e registro junto a Anvisa antes da comercialização. “Não há nenhuma evidência científica de que o termômetro infravermelho cause qualquer problema intracraniano”.