Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - padreadilson@omunicipio.com.br

Silêncio e taciturnidade

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - padreadilson@omunicipio.com.br

Silêncio e taciturnidade

Pe. Adilson José Colombi

Nesse tempo de isolamento social, aproveitei para reler o livro do escritor alemão, Anselm Grün” “As exigências do silêncio”. No capítulo 6º, fala de duas realidades da espiritualidade monásticas muito presentes e vividas nos Mosteiros: silêncio e taciturnidade. Esse segundo termo não é tão conhecido, como o primeiro. Anselm lembra que já o latim usava essas duas palavras com significação diferente. “Silentium” que significa mais a prática do silêncio, e “taciturnitas”, taciturnidade (qualidade do taciturno, recolhido). São duas atitudes diversas: atitude de silêncio e atitude de recolhimento. Essa segunda atitude é a que mais convém para quem quer abrir-se para a escuta da Palavra de Deus na Escritura e na Liturgia e onde pode viver na presença de Deus. Duas atitudes que se completam, sem se confundir uma com a outra.

Anselm Grün lembra que são duas realidades (silêncio e recolhimento) muito queridas, apreciadas e praticadas na espiritualidade beneditina, seguindo evidentemente as Regras Monásticas de São Bento. Para ele, as duas palavras encobrem uma atmosfera de abertura para o espírito de Deus. Não se trata, apenas, de aplicar técnicas de silêncio ou meditação, como acontece, por exemplo, na meditação zen. São duas posturas da pessoa, que quer entrar em sintonia com Deus: “calar” e “escutar”. “O silêncio serve para ouvir, ao escutar a Palavra de Deus. Ele aguça a percepção para a presença de Deus como espaço em que nos movimentarmos, e para a palavra de Deus que nos aponta o caminho” (pg.68, 8ª ed. Vozes). Não são meios de espiritualidade exclusivos dos monges. Qualquer pessoa pode se servir deles. Sem dúvida, é um caminho árduo a seguir.

Silêncio não se reduz a um deixar-de-falar passivo, um aquietar-se, eliminando a palavra falada. Pelo contrário. Tem que ser um silêncio ativo que se traduz numa atitude interior de recolhimento, um agir positivo. Um desapegar-se de si mesmo e um esvaziar-se para deixar se plenificar pela e com a presença de Deus. Como se percebe, o silêncio é o caminho para o recolhimento. O silêncio serve à taciturnidade. Oferece-lhe o ambiente propício para a construção de uma interioridade serena, tranquila, harmônica, cheia de paz e de alegria. Interioridade ordenada e harmônica, fruto de uma construção.

Essa atitude interior é uma construção, realizada no recolhimento por meio de uma luta contínua e diária, de administração de toda a caótica vida interior do ser humano. É um trabalho árduo para silenciar emoções, tristezas; silenciar o passado, os azedumes, queixas; silenciar desejos, antipatias; silenciar o pessimismo pessoal ou autolouvor; silenciar pensamentos vãos, futilidades, desejos e vontades próprias interesseiras; silenciar as angustias e dores interiores, sentimentos de solidão, de abandono; deixar de escutar a si mesmo/a, de consolar-se a si mesmo/a a fim de liberta-se de si mesmo…

Dessa forma, o silêncio e a taciturnidade conjugados e relacionados harmonicamente tornam-se os meios mais eficazes na construção de um ambiente interior sumamente conveniente para o processo de libertação que encaminha para uma personalização do ser humano, tirando-o da massificação, da impessoalidade.

O ser humano que descobre o silêncio e a taciturnidade e os insere em sua existência encontrou o caminho da verdadeira liberdade, da paz, da presença de Deus e do amor de Deus e do próximo como irmão/ã, peregrinos que caminham na mesma direção, na busca da felicidade, atraídos pelo amor insoldável do Deus de amor.

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo