Em coletiva de imprensa na manhã do dia 3 de junho de 2013, a diretoria do Hospital Azambuja anuncia que a partir do dia seguinte, o pronto-atendimento da unidade não atende mais pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A decisão preocupou a população, que teria que se deslocar para outros municípios para receber atendimento de saúde gratuito. O anúncio do hospital pegou também a Prefeitura de Brusque de surpresa.
Prefeito na época, Paulo Eccel diz que ficou sabendo da decisão do hospital pela imprensa. “Estávamos em processo de negociação e fomos surpreendidos com o anúncio do fechamento do pronto-socorro. Na semana anterior, tivemos uma longa reunião com a administração do hospital, onde foi feita uma proposta e aguardávamos uma resposta. A reunião foi bem produtiva, amigável, nunca imaginei que isso pudesse acontecer”, diz.
Hospital e prefeitura negociavam desde janeiro a renovação do contrato, como acontece anualmente. Diretor da unidade hospitalar desde 1984, padre Nélio Schwanke lembra que o hospital estava passando por dificuldades financeiras, e não tinha mais condições de pagar os plantões da emergência.
“O que a prefeitura nos pagava era o mínimo, cobria apenas a metade do número de atendimentos feitos no hospital. Isso tudo começou a pesar muito. Começaram as negociações, ficamos de janeiro a junho discutindo. Não houve acordo, até que a diretoria chegou à conclusão de que não dava mais para continuar e tomamos a decisão”.
O que a prefeitura nos pagava era o mínimo, cobria apenas a metade do número de atendimentos feitos no hospital. Isso tudo começou a pesar muito
A partir do anúncio do hospital, a prefeitura precisou tomar uma atitude rapidamente, para evitar que a população ficasse sem atendimento via SUS na cidade.
No início da tarde do dia 3 de junho, Eccel convocou a imprensa para anunciar a publicação de um decreto de calamidade pública e, consequentemente, a intervenção administrativa do hospital até 31 de dezembro. Já naquele dia, o nome de Fabiano Amorim foi anunciado como novo administrador.
No dia 4 de junho, o pronto-atendimento do hospital ficou cerca de uma hora fechado, durante a reunião entre a diretoria e a prefeitura. Após a reunião, Fabiano Amorim e a então secretária de Saúde, Cida Belli, reabriram a unidade. A partir de então, o local voltou a funcionar normalmente.
“O hospital foi para a Justiça para barrar o decreto, mas a Justiça manteve e nomeamos o Fabiano como interventor, que tinha uma experiência fantástica na área”, destaca Eccel.
Passados os momentos de turbulência e apreensão, a crise financeira, que culminou com o anúncio do fechamento do pronto-atendimento e com a intervenção da prefeitura, é vista como um divisor de águas dentro do Hospital Azambuja.
Para Eccel, a crise gerou uma fase positiva para o hospital. “Confirmou o que a gente falava, que o problema do Hospital Azambuja era de gestão. Tinha que mudar a forma de gestão e o hospital mudou. Os resultados estamos vendo até hoje”, avalia.
Responsável por administrar o hospital durante o período de intervenção, Fabiano Amorim lembra que inicialmente foi feita a verificação de todo o faturamento do hospital, que era em torno de R$ 1,3 milhão por mês.
Tinha que mudar a forma de gestão e o hospital mudou. Os resultados estamos vendo até hoje
Foi também neste período que o hospital foi informatizado. “Quando entramos, era tudo manual, na caneta. Qualquer relatório demorava duas semanas pra chegar, não conseguia administrar assim. Não tem como tocar uma estrutura de 150 leitos fazendo prontuário na mão. Então essa situação, quando assumi, estava um pouco caótica e com o tempo fomos modernizando”.
Além da informatização, Amorim destaca o credenciamento em vários programas do Ministério da Saúde e, consequentemente, a vinda de mais recursos federais, fundamental para organizar a gestão do hospital de Brusque.
“Tinha diversas questões de recursos federais, de portarias, que a gente verificou que o hospital poderia ser habilitado. Na época, o faturamento do SUS representava R$ 750 mil e o restante era de particulares e convênios. Com o credenciamento no Ministério da Saúde, aumentamos a receita, a oferta de serviços para a comunidade e adquirimos diversos equipamentos”.
Ao fim dos seis meses de intervenção, a administração do hospital foi devolvida à Mitra Diocesana, e Amorim foi convidado para continuar na função de administrador da unidade. Ele permaneceu à frente do hospital até dezembro de 2017.
“Quando deixei o hospital, o faturamento estava em R$ 3,7 milhões. Em quatro anos, ele foi de R$ 1,3 milhão para R$ 3,7 milhões. No início, recebia em torno de R$ 750 mil do SUS e passou a receber R$ 1,7 milhão, e o restante particular e convênios. Estava com uma receita boa e tudo isso proporcionou a subida. A organização administrativa, convênios com o governo federal através das portarias que davam recursos”.
Padre Nélio Schwanke destaca o trabalho feito por Amorim durante o período de intervenção.
“O Fabiano Amorim, que era o administrador nomeado pelo prefeito, fez um trabalho bom. Tanto que quando a prefeitura devolveu a administração do hospital, eu fiz questão de ficar com o Fabiano, mesmo contra a opinião de outros. Por que mexer no que está dando certo? Não há motivos para isso”.
O padre também lembra da auditoria que foi realizada nas contas do hospital, em que não foram encontradas irregularidades. “Tinha essa desconfiança de que o dinheiro era desviado, mas a auditoria não encontrou nada, nenhum desvio de dinheiro, de roubo, podem ter encontrado algum erro acidental, passível de correção, mas proposital, não”.
Ao longo dos anos, já com a figura do administrador consolidada, o hospital teve diversos avanços, como três plantões destinados a emergência, novos equipamentos e profissionais, além de melhorias estruturais e novos serviços.
“Criamos a ala particular e de convênio, o centro de imagem, o ambulatório particular e de convênios, compramos tomografia nova, ressonância magnética, aparelho de ultrassom, equipamentos cirúrgicos. A credibilidade do hospital mudou. A comunidade passou a respeitar mais”, avalia Fabiano.
Padre Nélio também avalia que a crise gerada com a intervenção da prefeitura gerou frutos que o hospital colhe até hoje.
“Eu acho que foi bom. Não tenho mágoa do prefeito ou da secretária. Claro que não gostei da forma como foi encaminhado, mas foi bom para a instituição. A prefeitura, que é a maior compradora de serviços, pode ver bem de perto como funciona, o que é muito diferente de eu ir lá e dizer. Nós mudamos, a prefeitura viu onde deveria mudar e o assunto foi resolvido e deu uma alavancada bonita”.
Nós mudamos, a prefeitura viu onde deveria mudar e o assunto foi resolvido e deu uma alavancada bonita
Com 118 anos de história, o Hospital Azambuja conta hoje com mais de 500 colaboradores e se prepara para inaugurar novos serviços como a hemodinâmica, conquistada com a ajuda de empresários locais, e também implantar a UTI neonatal. O hospital deve inaugurar, em breve, a reforma na emergência, e iniciar também melhorias no centro cirúrgico.
“Sem dúvida, o hospital evoluiu de lá pra cá e estamos mantendo essa evolução a cada ano que passa”, destaca o padre.
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