Editorial: Falta d’água
Na quarta-feira o jornal O Município trouxe, como matéria de capa, a situação crítica de falta de água decorrente da estiagem prolongada. Há mais de três meses tivemos o registro de uma precipitação forte (9 de fevereiro) e desde então o volume de chuvas é o menor dos últimos oito anos.
Como consequência podemos ver a redução no volume de água nos mananciais da cidade. O próprio Itajaí-Mirim está com uma lâmina de água inferior a 70 centímetros, deixando à mostra boa parte de seu leito.
Na terça-feira, como enfrentamento da situação, dois decretos entraram em vigor com o objetivo de controlar o uso da água neste período. Um cria o comitê técnico de gestão da crise hídrica e o outro coloca em prática o estado de alerta. A partir de então é proibido o uso da água que não envolva diretamente o ser humano ou animais.
O governo promete punição com multa para quem descumprir a medida e desperdiçar a água, conforme falou o diretor-presidente do Samae, Dejair Machado. Assim, lavar o carro, a calçada, o muro, ou até irrigar as plantas está proibido.
Segundo Machado, dos seis sistemas de tratamento isolado, dois estão em falência quase total, trabalhando de forma precária, o do Dom Joaquim e do Santa Luzia. A situação só não é pior porque o sistema do centro, que atende 75% da população, ainda opera normalmente.
A estiagem é um fenômeno natural, mas a poluição é exclusiva do ser humano
O baixo nível do rio Itajaí-Mirim não é somente uma preocupação de abastecimento, ele deixa mais visível os crimes ambientais praticados na nossa cidade. Estamos recebendo e publicando, quase que diariamente, imagens de despejos de dejetos em nosso rio.
A baixa vazão deixa a mostra as tubulações de efluentes de empresas e a pouca água concentra estes dejetos, alterando ainda mais a cor e mal cheiro no rio. O esgoto doméstico também agrava a situação, com ribeirões secos por onde somente ele está passando.
Muitas denúncias já foram feitas neste sentido, mas há sempre uma desculpa que não permite a identificação e autuação dos criminosos. Com a impunidade, eles se sentem à vontade para continuar com seus despejos de dejetos.
Em relação ao esgoto doméstico, a expectativa gira em torno do Plano de Manifestação de interesse, PMI, lançado em dezembro de 2019 e que tem o mês de junho como limite para a definição das propostas.
A estiagem é um fenômeno natural, mas a poluição é exclusiva do ser humano. As ações de cuidados anunciadas por conta da estiagem são necessárias e oportunas, mas a falta de combate a poluição está deixando nossa cidade indignada.
Não é possível que nenhuma esfera de poder esteja preocupada e atuando no combate a estes crimes ambientais. O rio é a nossa maior riqueza. Ele nos provê com o elemento vital a nossa existência e não podemos deixar que ele seja envenenado todo dia.
Não podemos ver o rio Itajaí-Mirim como um recurso ilimitado. Mais do que nunca ele precisa de cuidados e a estiagem é um excelente alerta para, literalmente, vermos as agressões que ele vem sofrendo e cobrar providências de nossas autoridades.