Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - padreadilson@omunicipio.com.br

“E daí?”

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - padreadilson@omunicipio.com.br

“E daí?”

Pe. Adilson José Colombi

Essa expressão deu o que falar! Foi pronunciada pelo presidente da República em uma entrevista espontânea. A partir dela, quantas considerações foram feitas, por todo tipo de categorias de pessoas: políticos, politiqueiros, jornalistas, analíticos políticos, cientistas políticos, médicos, advogados, juízes, promotores, desembargadores, líderes religiosos, etc. etc. Todos têm algo a falar, por horas e horas. Assim, temas bem mais relevantes ficam encobertos por essas considerações. E, dessa forma, a vida política flui, do jeito brasileiro. E o povo, né? Não vale um “e daí?”. Menos que um “e daí?”.

Por que tudo isso? Bem, são várias as razões. Fico, apenas, com o problema da comunicação humana. De fato, na comunicação interpessoal, via palavras, não é tão fácil como muita gente pensa e age. As palavras, depende de quem a usa e como são utilizadas, traem a pessoa que as proferem. Porque pode ter várias conotações dependendo do modo como é pronunciada, com que força e ênfase, entonação, grau de emoção conexo à ela, no contexto da frase ou do discurso, lugar que é proferida e assim por diante.

“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”. Foi a reação do Presidente da República ao ser perguntado por um repórter, em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília. A resposta deu oportunidade para risos de apoiadores do Presidente que estavam presentes no cercado montado diariamente na residência oficial. Mas, pelo Brasil afora não foi bem assim. A grande maioria, certamente, não aprovou essa maneira de tratar de assunto tão grave e tão devastador pelo mundo e também pelo nosso país. Têm muita gente sofrendo e não pegou bem essa fala irônica e com uma grande dose de desdém.

Esse “E daí” pronunciado no início da resposta e do jeito que foi dito ficou como conteúdo de toda a entrevista para boa parte do país. Tudo o mais ficou encoberto e não foi levado em conta. Essa expressão deu tom de toda a postura do Presidente a respeito da Covid-19, embora, quero crer, não seja o posicionamento, de fato, dele. Todavia, deu essa impressão para muitos e, sobretudo, os seus opositores souberam aproveitar bem e estão continuando esse desgaste de sua pessoa e de seu governo. Tudo isso, com certeza, não é nada produtivo e aproveitável para seu governo e para o país. Além do mais pode e, certamente, vai complicar bastante seu modo de conduzir o destino desse país e, inclusive, sua permanência no posto.

O “e daí” deixou uma onda não só de repulsa, de frieza ou de indiferença diante da situação reinante já em muitas regiões do Brasil, mas a sensação de falta de humanidade e de desrespeito com a dor alheia, a dor de tantas pessoas, famílias, comunidades que estão enterrando seus entes queridos em valas comuns como indigentes e sem acompanhamentos dos familiares e amigos. Cenas tristes, em toda parte, que certo tipo de mídia, parece sentir prazer em mostrar e comentar longamente.

Em tempos de tanta comoção e dor, diante das perdas materiais e de pessoas queridas, espera-se do presidente manifestações mais respeitosas e humanas com as famílias e com os que estão lutando, com abnegação e amor, nas linhas de frente dessa pandemia e também diante das vítimas dessa situação calamitosa.

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