Moradores de Brusque e região enfrentam pandemia do coronavírus em sete países; conheça as histórias
Governos tentam diminuir o impacto do Covid-19 na vida da população ao redor do mundo
Governos tentam diminuir o impacto do Covid-19 na vida da população ao redor do mundo
No Brasil, as medidas mais duras para combater o coronavírus começaram na última semana. Ao redor do mundo, porém, o vírus chegou bem antes, e os governos tentam ao máximo evitar a contaminação da população em massa.
Moradores de Brusque e região contam como está sendo a vida em outros países e como as autoridades estão tentando diminuir ao máximo o impacto do Covid-19 na saúde da população.
*números de casos foram atualizados no dia 25 de março, às 14h30 (https://www.worldometers.info/)
Natural de Brusque, Arthur Germano Hoffmann, 25, mora em Lisboa desde setembro de 2019. Ele percebeu que o governo de Portugal tomou medidas rapidamente e foi eficiente na transmissão de informações à população.
“Portugal está sob influência de toda a União Europeia e principalmente da sua vizinha Espanha, e percebi uma aliança para as tomadas de decisões. O governo de modo geral tem deixado a população muito bem informada e sempre vejo a ministra da Saúde, Marta Temido, no centro das atenções da mídia”, diz.
Portugal tem 2.995 casos e 43 mortos por conta do Covid-19. Hoffmann conta que a maioria da população tem respeitado as medidas do governo, com algumas exceções, principalmente de idosos.
“Saiu uma notícia onde havia um vídeo que policiais estavam ordenando uma senhora a voltar para a sua residência e a mesma insistindo que iria quando quisesse”, lembra.
Ele diz que a população não pode deixar suas casas durante à noite e que um forte policiamento foi montado para manter a quarentena.
Algo que chama a atenção para Hoffmann é a higienização dos transportes públicos, que está sendo gratuito neste momento.
Hoffmann admite que vê uma tensão no ar por parte da população e um medo em relação ao futuro, principalmente para os pequenos negócios. “O governo tem respondido a essas questões. Há medidas sendo feitas para amenizar o impacto na economia como a facilitação de crédito pessoal pelo Banco de Portugal”.
Uma outra questão que ele tem percebido no noticiário são as condições que tem enfrentando os funcionários da saúde. “Muitos reclamam da falta de profissionais, equipamentos e até mesmo chega a faltar o básico”.
Há dois anos morando em Londres, Sabrina, 31 anos, que é de Brusque, acompanhou de casa o começo dos casos na Inglaterra.
“Na metade de fevereiro um dos postos de saúde do meu bairro teve que ser interditado por causa de um caso do coronavírus, mas acho que ninguém cogitou que chegaria onde estamos hoje”, admite.
O Reino Unido, que inclui Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, tem até agora 8.227 casos de coronavírus e 433 mortes.
Sabrina conta que tinha passagem marcado para dia 4 de abril para voltar ao Brasil. “As passagens foram canceladas, junto com toda a normalidade da vida”.
Ela lembra que no dia 15 de março, não encontrava mais comida no supermercado. No momento, a população está autorizada a sair de casa uma vez por dia, para fazer exercícios, comprar mantimentos ou cuidar de alguém vulnerável.
A entrada em lojas é regulada, e as filas respeitam a distância de 1,5 m por pessoa. Os serviços públicos que permaneceram abertos tomaram algumas medidas de proteção aos funcionários, como barreiras de plástico entre o guichê e os clientes.
“Só saio de casa de luvas, como quase todas as pessoas que encontro. Máscaras esgotaram já mês passado”, diz.
Os Estados Unidos são o terceiro país com mais casos de coronavírus, com 60.653, atrás apenas de China e Itália; 819 mortes já foram registradas no país de maior população na América.
Nathália Moritz, 22 anos, está há sete meses em Nova Iorque, fazendo intercâmbio. Ela mora com uma host family (família nativa que aluga um quarto para intercambistas), onde o pai é médico e a mãe é enfermeira.
Ela conta que ficou preocupado no início das notícias do coronavírus, e que a família estava tranquila até duas semanas atrás.
“Numa quinta-feira, ele me ligou pedindo para eu ir ao mercado, porque no hospital os rumores de fechamento dos estabelecimentos estavam começando. Foi o dia onde toda a loucura começou, todo o estocagem de comida e papel higiênico. Acho que depois desse dia, todo dia era uma sensação diferente”, lembra.
Ela explica que, a partir daí, as pessoas as pessoas começaram a perceber a gravidade do vírus. As escolas enviaram notas de cancelamento das aulas e alguns estabelecimentos começaram a fechar.
“Até então a gente não tinha muito posicionamento do governo, só se via nos noticiários as mesmas coisas de sempre sobre a Itália e os poucos casos acontecendo no país. A princípio, as aulas seriam paralisadas por duas semanas, mas agora as escolas já estão cancelando o ano letivo por conta do aumento dos casos”, diz.
Nathália conta que existe um toque de recolher às 20h, porque as pessoas não estão respeitando a quarentena na cidade em que ela mora.
“Temos vários policiais nas ruas que estão começando a tirar as pessoas dos lugares, e, aparentemente, a próxima medida a ser tomada é de termos que pedir permissão para sair de casa e se sairmos sem permissão podemos pagar uma multa”, afirma.
“Existe uma previsão de melhora, já que a primavera começou e logo vem o verão, mas para isso acontecer nós precisamos nos manter dentro das nossas casas, caso contrário, os casos vão continuar aumentando e quase que toda a população vai contrair o vírus”, acrescenta.
Os hospitais estão em situação complicada, e uma das maiores preocupações dos médicos é por conta de pacientes que já estavam internados com outras doenças.
Daniel Silveira, 31, chegou em Dublin há pouco mais de três semanas, no dia 2 de março, para realizar um intercâmbio de oito meses. Ele é natural de Erechim (RS), mas é morador de Brusque há oito anos.
Silveira teve apenas uma semana de aulas antes do governo irlandês fechar completamente as escolas e proibir reuniões internas com mais de 100 pessoas e externas com mais de 500 pessoas.
Os pubs, tradicionais bares irlandeses, também foram fechados. A Irlanda tem 1.329 casos confirmados e sete mortes pelo Covid-19.
Silveira conta que alguns estabelecimentos tiveram que fechar, pessoas foram demitidas ou tiveram horas reduzidas e que o governo tomou medidas para auxiliar a população financeiramente.
“O governo propôs, para aqueles que perderam o emprego, um auxílio de € 250 semanal (cerca de R$ 1.353). Atualmente esse auxílio aumentou para € 350 (cerca de R$ 1.984), mas nem todos têm acesso. Somente aqueles que já estavam trabalhando”, explica.
O governo proibiu os landlords, que são os donos das casas, de subirem o aluguel e também de mandarem embora os inquilinos por falta de pagamento, e também deixou livre para eles negociarem uma redução do aluguel, que é muito caro – gira em torno de € 2 mil a € 3 mil por mês, divididos por quatro pessoas, no caso de Daniel.
Ele relata que é raro ver pessoas circulando nas ruas e que foi determinado que grupos de no máximo quatro pessoas podem andar juntos.
“Se forem vistas aglomerações haverá multas e punições. O governo também está proibindo entrada de estrangeiros no país. Somente quem comprovar residência e algum motivo especial”.
Realizando um work experience em Israel, Felipe Habitzreuter, 26 anos, morador de Guabiruba, conta que o país apresentou uma série de medidas para impedir a propagação, mas que os números aumentam diariamente. Já são 2.170 casos e cinco mortes no país por conta do Covid-19.
As fronteiras estão fechadas, não é permitido trafegar com mais de três pessoas em um automóvel, não é permitido aglomerações, as pessoas são instruídas a conversarem com uma distância de dois metros, existem contas de lotação em mercados, farmácias e demais estabelecimentos. Na grande maioria dos restaurantes, é obrigatório que os clientes levem a comida para casa.
“Indústrias e comércio funcionam em turnos reduzidos. Na empresa em que trabalho, idosos e pessoas com risco estão afastadas. O comércio abre nos dias em que há liberação do governo, este mês tem aberto com uma frequência de quatro dias por semana”, relata.
Habitzreuter conta que a população está acatando as medidas governamentais. O Ministério da Saúde do país prevê que a situação pode durar até sete meses.
Ele já tinha viagem marcada para alguns países da Europa após o fim do seu programa de intercâmbio, inclusive para encontrar a namorada, que estuda na Alemanha, mas os voos já foram cancelados e ele diz que vai ficar em quarentena até ter autorização para sair.
País com mais mortes por conta de coronavírus, a Itália já tem 7.503 vítimas fatais por conta da doenças e 74.387 casos, menos apenas do que a China, que para comparação, teve 3.281 mortos.
Natural de Brusque, Djonata Silveira, 28 anos, mora com a esposa, irmã e cunhado em Cesena, na região da Emilia Romagna, há dois anos. Ele trabalha em uma farmácia localizada dentro de um hospital e conta que médicos estão sendo contaminados por falta de equipamento.
“Os hospitais estão bem cheios, pessoal está sendo mandado para casa e chamando os médicos de base para ver se precisa mesmo de uma internação. Se for preciso, são mandados mandar à uma cidade mais próxima, porque aqui está tudo cheio”, relata.
Mercados estão disponibilizando álcool em gel e máscaras nas entradas e o abastecimento está normalizado, mas a população só sai de casa em extrema necessidade.
Para sair de cidade, é necessário apresentar um documento, sob pena de pagar uma multa e até ser preso. Silveira alerta para que os brasileiros tenham atenção e fiquem em casa, para evitar que a situação chegue ao que chegou na Itália.
Maria Luiza Furtado, 28, foi para a Austrália há três anos para estudar inglês e marketing. Segundo ela, a Austrália não está tomando medidas muito drásticas e está fechando os estabelecimentos aos poucos.
“Começaram restringindo o limite de pessoas dentro e fora dos locais, sendo máximo 100 pessoas dentro e 500 fora, mas pelo fato do vírus ser muito contagioso, não adiantou. Depois fecharam as fronteiras, sendo que ninguém pode entrar no país se não fosse residente australiano ou cidadão”, conta.
Atualmente, a Austrália tem 2.431 mil casos confirmados de coronavírus e nove mortes. No momento, todos os serviços não essenciais estão sendo fechados, como lojas, bares, restaurantes e academias, mas escolas, por exemplo, continuam abertas.
“Deixam ainda restaurantes e bares fazer esquema de entrega e também de takeaway (passar e lavar para casa). Ainda não estamos em quarentena total, mas falta papel higiênico”, relata, bem-humorada.
O governo australiano está dando um suporte para os cidadãos no valor de 500 dólares australiano por semana (cerca de R$ 1,5 mil) para que as famílias consigam se sustentar neste tempo de incertezas.
“Acredito que a Austrália está tomando medidas pensando em um todo, desde a pandemia, que está deixando pessoas doentes, e infelizmente levando a morte outras, até a economia, que com certeza afetará não somente aqui mas todo o mundo e a todos. Não podemos negligenciar essa parte, porque também acarretará muitos problemas”, opina.