Para quem esteve atento às ações culturais ocorridas na cidade ao longo do ano, pôde perceber um aglomerado de eventos nos últimos meses. Fora projetos particulares como o BQ (em)cena, peças e shows musicais do Sesc e iniciativas alternativas, muitas apresentações e oficinas acontecem no segundo semestre por conta da realização de propostas selecionadas pelo edital do Fundo Municipal de Apoio à Cultura, da Fundação Cultural de Brusque. Assim, fica evidente o impulso que ações do poder público causam na sociedade, levando atividades nas mais diversas linguagens artísticas gratuitamente ao público. Brusque é uma das poucas cidades catarinenses que criou e mantém ininterruptamente desde 2009 o edital que abre oportunidade a artistas e produtores para realizarem seus projetos.

Um deles foi desenvolvido ao longo dos meses de outubro e novembro, com cinco oficinas para crianças, jovens, adultos e idosos, e finalizou com uma exposição dos trabalhos realizados pelos alunos na última segunda-feira. Trata-se de “Escalafobéticos: identidades invisíveis tornadas visíveis” proposto por Elisângela Bertolini Brasil. Nos encontros foram construídos personagens fantásticos que questionam o conceito de beleza. Os grupos trouxeram à tona percepções de identidades distintas em que os contrastes se somaram, criando diversidade. Com o intuito de retirar as máscaras sociais e imprimir novos olhares ao estranho, ao diferente, ao fora do padrão, a exposição fica aberta à visitação até 14 de dezembro, na Fundação Cultural.

 

A gente quer comida, diversão e arte

Aproveitando o assunto em que fica evidente o papel do poder público na disseminação e acesso à cultura nas diversas esferas, uma questão vem preocupando àqueles que produzem e consomem arte no país: a anunciada extinção do Ministério da Cultura no próximo governo federal.

Muitas manifestações já vêm ocorrendo, com envio de cartas ao governo em transição e alertas de prováveis consequências negativas deste ato. Os principais argumentos em apoiar a continuidade dos programas desta área no Brasil são: atividades culturais em espaços de base comunitária reduzem 1/3 da violência e abrem portas para a juventude; o PIB da economia criativa do mundo cresceu 8,6% por ano de 2003 a 2012, enquanto o resto dos setores estagnou em 2,1%; a Lei Rouanet representa apenas 0,3% da renúncia fiscal da União, mas tem um impacto de até 400% de retorno e incremento para cadeia produtiva; as atividades culturais representam 4% do PIB nacional, contando apenas as ações diretas e geram 1 milhão de empregos diretos, englobando mais de 200 mil empresas e instituições.

Nas redes sociais as manifestações de apoio ao Ministério da Cultura estão sendo marcadas pela #ficaminc. Ao postar essa semana a arte que viralizou com a frase “Em um lugar onde não há atividades culturais, a violência vira espetáculo”, fui provocada pela colega artista Vânia Gevaerd a iniciar uma campanha para que num mesmo dia nos manifestemos em prol da cultura. Então, está lançada: no dia de hoje, pedimos que artistas, gestores, educadores e público consumidor, façam publicações e marquem a #brusquequercultura. Bóra se unir nessa ideia?

 

Lieza Neves – atriz, escritora e produtora cultural