João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

O incêndio do Museu Nacional

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

O incêndio do Museu Nacional

João José Leal

Na última semana, o lamentável incêndio transformou em cinzas grande parte das peças de Arqueologia e História Natural do centenário Museu Nacional, conhecido como o Museu da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. O sinistro acontecimento tomou conta do noticiário dos jornais, rádios e TVs. E continua repercutindo até hoje.

Pela importância do museu para a nossa história, o grave acontecimento mereceu ser notícia de destaque e de comentários mais demorados de toda a imprensa. Afinal, não se pode menosprezar a importância do acervo sobre a história brasileira que o museu sinistrado preserva. Além disso, as impressionantes cenas do incêndio, com suas chamas incontroláveis destruindo o majestoso prédio do século 19 e transformando em cinzas o valioso acervo histórico e arqueológico nacional, foram um prato cheio para alimentar o trabalho da mídia, que vive de acontecimentos épicos, do progresso social, das vitórias humanas, mas também das tragédias da vida de um povo.

Mesmo assim, num país de gente que não frequenta museus, foi surpresa ver nossa imprensa, pródiga em falar sobre futebol e outros assuntos tão ao gosto do povo, como as novelas globais e os programas de auditório à imagem e semelhança do sempre imortal e imitado Chacrinha, dispensar tanto tempo para mostrar documentos e peças de grande valor histórico e arqueológico, é verdade, mas desconhecidos da maioria do povo brasileiro.

De repente, choveram notícias e imagens de múmias egípcias, de peças arqueológicas, de cerâmicas dos povos que habitaram o território nacional, muito antes da chegada de Cabral. Também, imagens de importantes documentos do tempo do Brasil Colônia ganharam um lugar na vitrina das telas televisas e nas páginas dos jornais e revistas.

No entanto, nenhuma peça do museu mereceu tanta atenção dos meios de comunicação social quanto o crânio do fóssil mais antigo das Américas. A cabeça da Luzia, a ancestral da nossa gente verde e amarela, permaneceu sepultada por mais de 12 mil anos, até ser encontrada, em 1974, na localidade de Lagoa Santa, nos sertões das Minas Gerais, por cientistas franceses, porque os nossos não tiveram tempo ou capacidade para essa proeza arqueológica. Depositado no Museu Nacional, o crânio de Luzia ali permanecia esquecido ou ignorado pela maioria dos brasileiros.

Agora, a Luzia virou estrela de TV. Tristemente, foi preciso que o fogo da negligência e do desleixo destruísse o crânio da Luíza, considerada pelos estudiosos como a Mãe da Pátria, para que o povo brasileiro tomasse conhecimento da existência da emblemática e valiosa peça arqueológica.

Ainda não se tem notícia do resultado das investigações que podem apontar os responsáveis pela tragédia. O Museu pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro, com orçamento de 388 milhões de reais. Não é pouca coisa. Parece que, se não quiserem complicar, não será difícil identificar os culpados diretos pela tragédia.

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