O país pode ficar tranquilo.
A crise passou, a corrupção não importa e os problemas estruturais e econômicos
são coisa de gente desinformada. As boas notícias se devem à mais recente pesquisa
CNI/Ibope, que mostrou a recuperação da popularidade da presidente Dilma, e que
foi amplamente divulgada na semana passada. De bem com a vida, a presidente
brincou no twitter, sorriu e celebrou a renovada chance de reeleição. Os
assessores mais próximos devem ser os mais aliviados, pois, desde as vaias na
abertura da Copa das Confederações, ninguém deve ter tido uma noite tranquila
de sono enquanto o Ibope não mostrasse reversão da queda alimentada pelas
manifestações de junho.
As pesquisas de opinião são
ferramenta importantíssima de avaliação de tendências, mas são facas de dois
gumes. Para os governos, é muito mais importante se sair bem numa pesquisa dessas
do que enfrentar os problemas reais. Se a saúde era uma reclamação frequente
nas manifestações, o programa Mais Médicos, com suas inúmeras complicações,
garantiu o mais importante: que o governo aparecesse na TV com uma “agenda
positiva”. O que interessa, ao final, não é se o problema da saúde será ou não
resolvido – e é claro que não será. O que interessa é que essa ação, com todo o
marketing que envolve, mostra “que o governo está atento à voz das ruas”. E se
o Ibope mostra o crescimento da aprovação do governo, que importância tem o
resto? São os números do Ibope que levarão os partidos a se coligarem com este
ou aquele candidato, pois o importante é garantir a manutenção do poder, ou o
acesso a ele.
E quem ainda está pensando no
mensalão ou nos embargos infringentes do STF, além de meia dúzia de chatos e
inconformados, que são ponto fora da curva nas estatísticas do Ibope? Quem está
interessado na prisão de Dirceu e Genoíno, quando Lula nem sequer foi
investigado, e está a todo vapor nas campanhas de seu partido? Ou será que
alguma pessoa alfabetizada imagina que Lula não sabia ou não participou do
mensalão? No entanto, as pesquisas dizem que ele é o único que se elegeria no
primeiro turno.
Esse é um efeito colateral da
democracia: o país se torna refém das pesquisas de opinião, o que faz o
marketing ser mais importante que as ações efetivas. Enquanto os que carregam o
país real nas costas se desesperam, os políticos e os beneficiários do
assistencialismo e dos excessos da legislação trabalhista comemoram. No país
deles está tudo bem.
Não é preciso ser gênio para
perceber que essa fórmula não pode funcionar por muito tempo.