No meu texto da
semana passada, afirmei que a pobreza de espírito, no pior sentido da expressão,
não escolhe a condição social de suas vítimas. Evidente que não me referia ao
sentido em aparece no “Sermão da Montanha”, cuja tradução mais apropriada é “felizes
os pobres em espírito”.
Ao invés de despojamento
e desapego, a expressão “pobreza de espírito”, no seu sentido negativo, está
longe de indicar uma bem-aventurança. Ela é própria dos que, por preguiça e
acomodação, acostumam-se com o que é espiritualmente mais pobre e, portanto, vivem
vários níveis abaixo do desenvolvimento que poderiam alcançar.
O espírito humano é
um feixe de possibilidades, que se desenvolvem na medida da capacidade, dos
estímulos e do esforço de cada um. Se não houver bons estímulos, se o ambiente
em que a pessoa vive e as relações que trava forem degradantes, então a tendência
é que seu espírito empobreça, do mesmo modo que o corpo sadio, entregue ao
sedentarismo e aos maus hábitos, se degenera em doenças e incapacidades.
Para enriquecer o
espírito é preciso conectar as forças positivas latentes na alma, lutar contra
a preguiça – que limita as possibilidades ao que é mais cômodo e simples – e
exercitar o conhecimento e os bons hábitos. E isso se faz lendo, ouvindo e
apreciando o que é mais nobre e enriquecedor, em detrimento do que apenas
estimula os instintos mais baixos.
Lendo (e escrevendo)
isso, parece simples, mas a tarefa requer bons exemplos e bons estímulos,
mercadoria que não se acha fácil no mercado. Daí que essa pobreza espiritual
seja a vedete em todos os níveis sociais. Ela define os paupérrimos interesses
intelectuais dos estudantes, reforçados por um sistema educacional empobrecido
por teorias e práticas equivocadas. Entre os mais ricos, alimenta o consumismo.
Entre os mais pobres, alimenta o sonho do mesmo consumismo. A presença ou
ausência do dinheiro, nesses casos, é apenas um detalhe. Ele significará mais
carne, cerveja e som alto para uns e consumo extravagante para outros.
A riqueza
espiritual, de igual modo, existe em todos os setores sociais, e identifica
quem sabe colocar objetivos mais nobres no uso dos recursos (humanos ou
financeiros) que possui.
Muito do atraso econômico
do Brasil se deve ao nosso desenvolvimento cultural deficiente. Séculos de
escravidão, coronelismo, nepotismo e corrupção generalizada nos roubaram a
confiança na moralidade, na justiça, no esforço e no mérito. Sem
desenvolvimento espiritual, permaneceremos subdesenvolvidos, pobres…e infelizes.