Trineto do cônsul Carlos Renaux planeja transformar casarão em museu e espaço cultural

Villa Renaux, que abriga a casa onde o Cônsul Carlos Renaux passou parte de sua vida, faz parte do Inventário do Patrimônio Histórico de Brusque

Trineto do cônsul Carlos Renaux planeja transformar casarão em museu e espaço cultural

Villa Renaux, que abriga a casa onde o Cônsul Carlos Renaux passou parte de sua vida, faz parte do Inventário do Patrimônio Histórico de Brusque

VILLA RENAUX
Nos planos do herdeiro

Numa tarde ensolarada de Primavera, o vento encontra abrigo sob um lindo céu de brigadeiro contrastando com a mata verde que abraça a Villa Renaux.

Enquanto o tempo parece parar do lado de fora, os objetos, as memórias e o desejo de fazer das lembranças, momentos inesquecíveis, fazem pulsar a vida no interior da casa que pertencera ao Cônsul Carlos Renaux. Sentado na poltrona vermelha do escritório onde se pode encontrar intacto sobre a escrivaninha, o cartão de visita de seu trisavô, Vitor Renaux Hering fala sobre os planos que almeja para a Villa Renaux, localizada no topo de uma colina, na avenida Primeiro de Maio, em Brusque.

Herança
“Meu maior desejo é que o passado seja reescrito à altura. Sou herdeiro do direito de usucapião desse imóvel e tenho um compromisso com a comunidade brusquense. Não desejo fazer uso dessa casa como moradia, e sim, que ela seja explorada de forma inteligente. O que eu tinha que herdar desse passado está dentro de mim. Nasci em Brusque, morei na rua João Bauer onde passei minha infância. Estudei no Colégio São Luiz, aos 16 anos fui para São Paulo, onde cursei Física pela USP e resido até hoje. Minha mãe [Maria Luiza Renaux, a Bia] era historiadora e graças ao seu modo de educar, conduzir as brincadeiras e partilhar seu conhecimento, meus antepassados sempre estiveram muito presentes em minha vida”, revela Vitor.

O trineto do Cônsul Carlos Renaux destaca que a motivação da família não era simplesmente a alegria de viver, mas viver orientado por grandes objetivos.

“Apesar do legado industrial e dos negócios adjacentes que a família detinha, como banco e empresa de navegação, os objetivos perseguidos não eram materiais, mas principalmente, projetos fantásticos, como o da Fábrica Renaux, que marcou gerações e faz parte da história da cidade. Paralelo aos negócios, meus antepassados eram pessoas simples, acessíveis e alegres, porque não se limitavam ao trabalho. Eles valorizavam as relações pessoais e as coisas que são realmente importantes, e quando se tem acesso a isso, a vida passa a ser mágica. Minha mãe me expôs a essa perspectiva quando eu era criança e fui crescendo nesse contexto. Não aprendi a respeitar as pessoas pelo seu passado, mas pelo estilo de vida delas. Isso sempre me encantou. Meu avô Roland tinha um estilo interessante. Meu bisavô Otto era nosso principal herói e o brilho do Cônsul sempre foi indiscutível”, descreve o herdeiro.

Patrimônio
Sempre que retorna ao imóvel, Vitor aproveita para recordar os bons momentos vividos ao lado da mãe, que morou no imóvel por mais de duas décadas.

“Eu e minha mãe sempre tivemos muita afinidade e tínhamos um ótimo relacionamento. Vinha visitá-la todos os meses e ela sempre me esperava com minhas comidas preferidas. Mantenho a rotina de vir para cá mensalmente para verificar pessoalmente como está a manutenção do imóvel. Meu maior anseio é encontrar um bom caminho para essa casa. Minha mãe sempre teve a preocupação de preservar as características originais do imóvel e principalmente, a história por trás de cada detalhe. Ela tinha muito cuidado em manter esse legado por entender que ele não é um patrimônio apenas da Família Renaux, mas de toda a comunidade brusquense. O desejo dela era de que esse lugar fosse transformado em um museu que possibilitasse às pessoas, conhecerem e reconhecerem parte de sua história. E esse também é o meu desejo”, salienta Vitor.

Para o herdeiro da Família Renaux, a comunidade brusquense passou a ter um interesse maior pelo seu passado nos últimos anos. “Fico feliz em ver como a cidade se desenvolveu nesse quesito. Percebo cada vez mais o quanto as pessoas têm curiosidade de conhecer esse lugar e aprender sobre a história do Cônsul Carlos Renaux e de Brusque. Isso é um estímulo pra mim, um incentivo a continuar lutando para transformar esse imóvel num patrimônio histórico e num espaço cultural acessível à comunidade. Para tornar isso realidade, não preciso fazer muito mais do que me associar a grupos que estão conscientes disso. Um exemplo, é o convênio firmado com a Unifebe, que está possibilitando a realização de pesquisas históricas-científicas e a digitalização de todo o acervo. Acredito que com a união de muitas mãos e por meio de um trabalho em equipe, vamos desenvolver um projeto em benefício de todos. Essa parceria é apenas o início”, considera Vitor.

Projeto
Entre as mãos que se entrelaçam em prol da preservação e socialização da Villa Renaux, estão as da arquiteta Rosalia Wal, que é especialista em Restauração de Bens Imóveis e Áreas Culturais.

“Conheci a Bia Renaux em 2013 e ela tinha um grande cuidado em conservar a arquitetura, os objetos e os jardins. Tenho vasta experiência nesta área e é inédito ver um imóvel desse porte tão completo. Fico imensamente feliz pela oportunidade de fazer parte desse projeto. O Cônsul é uma figura ímpar para a cidade. Ele era um alemão que construiu essa casa que refaz uma vila italiana. Temos aqui um maquinário de condicionamento e refrigeração de ar dos anos 30, que é muito interessante para os estudantes de mecânica, por exemplo, entenderem como funcionava esse mecanismo antes da era digital. É um ambiente que valoriza a qualidade de vida e é rico em estudos sobre arquitetura e história. O fato de o Vitor manter o desejo da mãe de tombar o imóvel, preservar o seu entorno e abrir isso à população, demonstra os valores humanos e culturais da família”, avalia Rosalia.

A pedido do herdeiro, a arquiteta deve elaborar um projeto arquitetônico para transformar a Villa Renaux num museu, que contemple o acesso do público sem alterar suas características originais, seja na estrutura física, disposição de móveis e área de jardins. “O imóvel não requer trabalho de restauro, apenas manutenção, pois está muito bem conservado. A ideia é viabilizar uma forma da casa receber eventos culturais, talvez explorando mais sua área externa. O desafio é tornar esse espaço acessível de modo que não comprometa sua estrutura original e para isso, temos a tecnologia como aliada. Trabalho muito com museus e este certamente, será um novo desafio profissional, o qual terei o maior prazer em desempenhar”, garante Rosalia.

História
A Villa Renaux, que abriga a casa onde o Cônsul Carlos Renaux passou parte de sua vida, faz parte do Inventário do Patrimônio Histórico de Brusque, e está em processo de tombamento. De acordo com a professora Rosemari Glatz, a construção projetada pelo arquiteto alemão Eugen Rombach, foi iniciada em 1932 e concluída em 1935, sendo denominada originalmente de Villa Goucki em homenagem à terceira esposa do Cônsul.

A casa foi construída para ser a residência do industrial quando este retornou de Baden, Alemanha, e está localizada sobre uma elevação que inicialmente podia ser avistada da rua. Atualmente, tanto o imóvel como o Mausoléu que abriga os restos mortais de Goucki, estão encobertos pela vegetação que transforma o local num refúgio que desperta curiosidade à grande parte da população, mas que talvez, muito em breve, poderá ser desvendado.
“Não desejo fazer uso dessa casa como moradia, e sim, que ela seja explorada de forma inteligente”
Vitor Renaux Hering, trineto de cônsul Carlos Renaux

Disputa judicial
Desde 2012 a historiadora Maria Luiza Renaux, bisneta do Cônsul Carlos Renaux, tentava ter reconhecida judicialmente a sua propriedade da casa que pertenceu ao bisavô, e que foi mantida por ela até os seus últimos dias de vida, em janeiro deste ano.

A ação de usucapião movida há cinco anos foi ajuizada contra a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, hoje falida, que tem o imóvel registrado como seu patrimônio. Maria Luiza viveu no local por mais de duas décadas e, mantendo-o conservado, clamava o direito de tê-lo como seu, oficialmente.

No entanto, a massa falida não concorda com o argumento. O administrador judicial, Gilson Sgrott, contesta o pedido. Ele explica que a base da contestação é que, na sua avaliação, o que houve foi um empréstimo da residência para Maria Luíza.

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