Cerca de 80% dos laptops distribuídos para escola do Bateas foram descartados
Brusque recebeu 495 equipamentos do governo federal, mas empresa responsável deixou de fornecer peças de reposição
Brusque recebeu 495 equipamentos do governo federal, mas empresa responsável deixou de fornecer peças de reposição
Implantado em Brusque em 2010, o Programa Um Computador por Aluno (Prouca) rendeu poucos frutos à educação do município, segundo o atual secretário de Educação, José Zancanaro. Hoje, vários laptops estão danificados, sem possibilidade de reparos.
O Prouca foi uma das bandeiras do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não vingou. Foram selecionadas 300 escolas em todo o país – e apenas oito em Santa Catarina – para receber laptops.
A Escola de Ensino Fundamental Theodoro Becker, no Bateas, foi a única da cidade a receber 496 equipamentos. Sete anos depois, praticamente 80% dos computadores estão abandonados num depósito dentro da Arena Brusque ou no próprio colégio, afirma o setor de Tecnologia de Informação da Secretaria de Educação. Hoje, portanto, há menos de 100 equipamentos em funcionamento.
De acordo com Zancanaro, não é possível reutilizar os laptops já descartados porque não existem peças de reposição no mercado. “Os equipamentos são ruins e não têm peças de reposição”.
Segundo um funcionário que trabalhou no projeto à época, em 2010, o problema foi que os laptops enviados para a cidade tinham peças feitas especialmente para eles. A CCE, vencedora da licitação, produziu aparelhos exclusivos para o Prouca, com garantia de dois anos.
Os equipamentos tinham quatro gigabytes de armazenamento, 512 megabytes de memória, tela de cristal líquido de sete polegadas, bateria com autonomia mínima de três horas e peso de até 1,5 quilograma. Era equipado para rede sem fio e conexão de internet, além de itens de segurança.
Quando o período de garantia acabou, as peças de reposição deixaram de ser fornecidas. A CCE deixou de prover as peças, e com isso muitos laptops ficaram sem serventia. O funcionário também relatou que por um tempo foi possível usar as peças de um já estragado para usar noutro, e assim ter algum operando.
Mas num certo momento não foi mais possível fazer isso. Sem peças no mercado, pois os aparelhos têm especificações próprias, não há mais serventia para os laptops. Mas o motivo central para o fim do Prouca em Brusque foi a sua descontinuação por parte do Ministério da Educação.
O Prouca teve início em 2008, em algumas capitais. Dois anos depois, o programa foi lançado nacionalmente pelo então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em Caetés (PE), sua cidade natal.
O programa integrava a política nacional de incentivo à tecnologia que era tocada pelo Ministério da Educação (MEC), que, à época, tinha como titular Fernando Haddad, que depois seria prefeito de São Paulo.
A primeira etapa nacional levou os computadores portáteis para 300 municípios, sendo oito em Santa Catarina, um dos quais Brusque. O MEC investiu R$ 82 milhões para adquirir os 150 mil primeiros laptops.
No dia 23 de setembro de 2010, a Prefeitura de Brusque, na gestão do ex-prefeito Paulo Eccel, realizou um evento para apresentar o Prouca.
Os computadores foram entregues aos alunos alguns dias depois, após os professores e os estudantes passarem por capacitação. Segundo comunicado da prefeitura à época, os laptops ficavam conectados à rede da escola.
Segundo o funcionário do setor de TI, no início o Prouca deu certo e Brusque chegou a ser destaque pela logística. Mas com os problemas de manutenção e de peças de reposição, e depois o cancelamento, a iniciativa perdeu força.
Em contato com funcionários da escola, a avaliação é que os laptops não são ideiais, mas ajudam nas aulas no laboratório de informática. Alguns turmas são muito grandes e não há máquinas suficientes, com isso, os laptops complementam os faltantes.
O Prouca foi descontinuado em 2013, mas sem anúncio oficial por parte do governo federal. Em vários estados e municípios, o programa não vingou, conforme diversas reportagens, e o uso de tecnologia ainda engatinha nas escolas públicas do Brasil.