A vida de um médico cardiologista é bastante agitada: não tem data e nem hora para o trabalho. Quando o aviso de urgência e emergência vem, é preciso largar tudo e correr para o hospital. Foi essa rotina de salvar vidas que Gustavo, desde criança, viu seu pai viver.

Na época, ainda sem celulares, era para o telefone fixo da casa que vinham os chamados.
De madrugada ou fim de semana, o pai sempre estava a postos para servir os pacientes. Durante os fins de semana, quando Wolney Carlos Loeff, 62, ia para o hospital visitar os quartos dos pacientes, Gustavo aproveitava para ir junto.

Nesses momentos, o pai deixava Gustavo carregar sua mala com o estetoscópio, receituários, carimbos, entre outras ferramentas de trabalho. “Eu já me sentia um pouco médico também. Foi dali que foi surgindo esse desejo de quero ser igual ao meu pai”, conta.

Com o passar dos anos e de forma natural, Gustavo confirmou a decisão de cursar Medicina. “Estudei em São Paulo e durante a faculdade pensei em ir para outras especializações, mas a Cardiologia sempre me atraiu mais”, diz.

Wolney lembra que com 12 anos saiu de casa para estudar fora, incentivado pelo pai. Por desejo e aptidão desde criança, foi então que escolheu a profissão. “Gostava muito de cirurgia, mas ao fazer cardiologia me descobri apto para fazer isso”.

Ele afirma que sempre deixou muito livre para que os filhos pudessem escolher a profissão que quisessem. “Gustavo escolheu a Medicina por espontânea vontade, mas eu sempre sugeri que fosse médico e ‘paitrocinei’, até porque teria várias facilidades na carreira, pois começaria a trabalhar em um local onde eu já estava estabelecido”.

Arquivo Pessoal

O que deixou Wolney ainda mais feliz com a decisão do filho, foi que depois de estudar em São Paulo, optou por voltar para Brusque, mesmo com condições de permanecer lá.

“Me orgulho muito dele, até porque nos tempos atuais é muito mais demorado e difícil para fazer uma boa residência em cardiologia em São Paulo. Tem que estudar e trabalhar muito, e foi o que ele fez”.


Mãos que salvam

A parceria entre o pai e filho se estende ainda mais no dia a dia da profissão. Isto porque, todas as terças-feiras pela manhã, Wolney e Gustavo atendem juntos. “Felizmente alinhamos as agendas e conseguimos trabalhar juntos. Em casa, mesmo nos momentos de folga, também costumamos trocar informações, opiniões e temos liberdade de perguntar um para o outro de casos que consideramos mais difíceis”, conta Gustavo.

Além disso, um consegue substituir o outro em determinados momentos. Como durante esta semana, em que Wolney participa de um congresso em Paris, na França, e Gustavo atendeu os pacientes do pai, para não deixar ninguém desassistido. “Isso é muito legal, acaba polarizando o trabalho”, analisa.

A parte mais difícil em seguir a profissão do pai, segundo Gustavo, é o fato de ele mesmo se cobrar muito. “Penso que tenho que dar sempre o melhor de mim, pois não posso decepcionar tanto os pacientes como o meu pai. Então tenho que sempre manter um padrão de qualidade”, diz.

Wolney e Gustavo também participam de congressos juntos, tanto em outros estados como fora da país, e esses momentos se tornam viagens em família. “Meu pai é meu espelho, respeito ele assim como os médicos de São Paulo. Ele é um exemplo de seriedade e de trabalho ético. Meu desejo é um dia conseguir chegar aonde meu pai chegou”.