João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

As águas do Ródano

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

As águas do Ródano

João José Leal

No começo deste mês, o Itajaí-Mirim inundou parte da nossa cidade. Seu irmão-maior, o Itajaí-Açu, causou enchentes e muito estrago em diversas cidades da região. As imagens das ruas e casas invadidas pelas águas enlameadas, me fizeram lembrar do rio Ródano, que os franceses chamam de Rhone. Poucos dias antes, tinha eu visitado o grande curso d’água que nasce nos Alpes suíços, longa viagem de barco, mais de 500 km ida e volta.

Durante o trajeto, surpreendeu-me a limpeza das águas do maior rio francês, sem qualquer sinal de poluição, livre das degradantes embalagens plásticas e de qualquer outro entulho. Quando o barco ancorava, em pleno centro das cidades visitadas, as águas corriam límpidas, transparentes, a ponto de exibir cardumes de pequenos peixes em movimento contínuo, numa dança coletiva de rápidos rodopios, de mergulhos e de volta à superfície.

O Ródano, dizem orgulhosos os franceses, “está domado”, controlado pelas 19 barragens, que produzem energia para um terço do país, ajudam a controlar as cheias e a correnteza. Suas eclusas permitem a navegação em todo curso do rio. É impressionante ver o barco de mais de 100 metros entrar naquele enorme caixão de concreto para ser emparedado e levantado ou baixado a mais de 20 metros. Então, abre-se comporta para o nivelamento do espelho d’água e a navegação continua.

Surpreendeu-me, também, o número de pontes cruzando o rio, um dia já atravessado pelo cartaginês Aníbal e suas tropas, em seu malogrado plano de invadir e destruir Roma. São muitas e de engenharias as mais diversas. Algumas estaiadas, suspensas por finos cabos de aço, que lhe dão uma silhueta cheia de leveza e elegância. Outras são antigas, quase um milênio de história, como é o caso da ponte de Avignon, hoje, pela metade, mas ainda de pé. Porisso, famosa e cantada em todo o mundo.

Nosso indomado Itajaí-Mirim, ainda poluído e exalando mau cheiro lá pelas bandas da Santa Terezinha, não conhece nenhuma barragem, o único projeto engavetado pelo Chico Mendes, nenhuma eclusa. Pontes, a cruzar o seu estreito leito, são poucas e pobres em engenharia. Agora, uma delas ficou capenga e a cidade está vivendo momentos de longos e irritantes congestionamentos no seu trânsito de veículos.

Água é água, em qualquer lugar do mundo. Afinal, é um elemento da Mãe-Natureza. Mas, as águas do Ródano estão domadas e são mais limpas.

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