Uma grande encenação
Mais do que elogiável a iniciativa de nossa Associação Empresarial de Brusque (Acibr) em reunir em suas dependências praticamente todas as entidades representativas de classe da cidade para debater e solicitar apoio às figuras chave da política local presentes, à aprovação do projeto de lei que visa proibir vereadores de assumir cargos no poder Executivo.
Após o pronunciamento das lideranças, todas em defesa da aprovação do projeto pela Câmara de Vereadores, ouviu-se das autoridades municipais o seu posicionamento politico com relação ao assunto em pauta.
O prefeito Jonas Paegle, que como autoridade máxima da cidade dita as diretrizes politicas do governo, mostrou-se simpático à aprovação do projeto, que entre outras coisas visa moralizar a interação entre os poderes. Afirmou que “o eleitor vota naquela pessoa e quer que ela exerça o seu mandato de vereador. É fundamental” emendou.
Coerente com as regras da democracia e com os anseios da população as divagações de nosso prefeito.
Já o vice-prefeito Ari Vequi, que a meu ver deveria tocar a mesma melodia que o seu chefe, encimou-se nas alturas de um muro para filosofar que “não saberia dizer se é a favor ou contra o projeto e que o governo municipal lavaria as mãos com relação ao tema”.
Não deixa de ser altamente frustrante ouvir da segunda pessoa mais importante na hierarquia política do poder Executivo brusquense não conseguir definir-se sobre este projeto de importância política e moral, e ainda nos revelar que o poder Executivo encontra-se na mesma situação.
Para enrolar ainda mais a discrepância de posturas e opiniões da alta hierarquia política presente, o líder do governo na Câmara de Vereadores, Deivis da Silva, bateu novamente na tecla da inconstitucionalidade do projeto, afirmando ainda que “o vereador, como agente político, pode ser convidado a ocupar um espaço no Executivo”.
Deveras estranha esta constelação na política municipal: um prefeito que apoia, um vice em cima do muro e um líder do governa na Câmara defendendo posturas diametralmente opostas ao seu líder político. Realmente uma situação “sui generis”, digna de ser incluída no currículo dos estudiosos das Ciências Políticas daqui para frente.
E se tudo isso que vimos e ouvimos não passar de uma bem montada e ensaiada encenação teatral que teve um de seus atos montada na sala de reuniões de nossa Acibr?
Nos dias de hoje, nada é impossível: o prefeito dando o seu tímido apoio ao projeto para não ser deselegante com os anfitriões e não decepcionar as lideranças ali presentes. O vice-prefeito, por sua vez, borrifando a plateia com jatinhos de água gelada, quiçá preparando-a psicologicamente para o golpe final que caberia ao líder do governo na Câmara, que comandou o bloco que cavou a sepultura deste importante projeto na sessão de terça-feira, 23.
Tudo acordado e ensaiado, cada qual desempenhando o seu papel, para que as coisas permaneçam como estão e que tudo continue como sempre foi: um bazar para negociações políticas e troca de favores.
Considero decepcionante as atitudes de alguns políticos que continuam insistindo na prática de condenáveis artimanhas d’outrora, abjuradas pela maioria da população. Parece-me que muitos ainda não se deram conta de que estamos passando por uma profunda metamorfose social, política e moral da qual, esperamos, surja um Brasil mais honesto, justo e transparente.