João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Mãos que transformam barro em arte

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Mãos que transformam barro em arte

João José Leal

Cultivo orquídea, essa flor de sublime beleza, que exala perfume e mistério. Hoje, muitos orquidófilos preferem plantam a orquídea em vaso de plástico, mais leve e mais barato. Eu continuo resistindo à mudança. Uso, ainda, vaso de barro feito à mão, por um oleiro, cozido em forno à lenha, aquele com furos do tamanho de uma moeda de 50 centavos para uma boa drenagem, pois orquídea não gosta de ficar ensopada na água da chuva.

Dizem os estudiosos que a olaria é a mais antiga atividade manufatureira, com seu começo perdido nos remotos tempos da pré-história, quando a humanidade passou a substituir porongos e as diversas cascas por peças feitas em barro para uso doméstico.

Meus vasos são obras de artesanato em cerâmica, feitos pelas mãos habilidosas de Vili Dietrich, único oleiro destas paragens banhadas pelo Itajaí-Mirim, profissão hoje desconhecida desta juventude cibernética. Em sua olaria, na rua São Pedro, trabalha duro para manter a antiga tradição da arte de transformar o barro em vasos e utensílios domésticos.

Oficina do barro manufaturado, transformado em arte e utensílios, a olaria é o local de trabalho do oleiro. Pode ser chamada de ateliê da simplicidade e de pé no chão, espaço de labor que não conhece a sofisticação das cores nas paredes nem no teto, o piso impregnado de pó. O torno, equipamento de trabalho do oleiro, é sua ferramenta milenar, cruzando séculos com o mesmo engenho, a grande e compreensível mudança, ficando por da energia elétrica, que evita o esforço físico extenuante do oleiro.

Os antigos tornos tinham duas rodas. A debaixo, maior e a de cima, menor, onde o oleiro trabalha a argila cinzenta, as duas unidas por um eixo, tudo em madeira de lei, da melhor qualidade. Sentado em frente ao seu instrumento de trabalho, cabeça baixa, olhos fixados no barro, matéria-prima sem forma, o oleiro aciona com um pé a roda inferior para o giro sincronizado, mais rápido, da menor, na velocidade necessária ao manejo da cinzenta pasta, em rodopio incessante sobre a mesa superior de modelagem.

Então, espremida, retorcida, aparada, retocada, pelas mãos habilidosas desse profissional, a argila vai se transformando, se amoldando e ganhando a forma concreta de panelas, potes, moringas, alguidares e vasos de flores, feitos seguindo a arte milenar da cerâmica. Depois da secagem, a prova de fogo, as peças enfrentando a fornalha a lenha, temperatura superior a 900 graus, até as paredes ganharem a impermeabilidade e ares de vidro.

Dedico esta crônica ao oleiro Vili Dietrich, mestre do barro transformado em vasos, alcovas silenciosas de minhas belas e perfumadas orquídeas.

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